Igreja em Cuba aceitou estar no "olho do furacão" pelos prisioneiros de consciência (ACI)

Ditador socialista Fidel Castro
HAVANA, 24 Jun. 11 / 11:50 am (ACI/EWTN Noticias)

Orlando Márquez, porta-voz da Arquidiocese de Havana (Cuba) escreveu um artigo no qual assinala que a mediação realizada por representantes da Igreja no país ante o governo de Raul Castro para libertar mais de 100 prisioneiros de consciência, "não foi uma mediação neutra, mas comprometida, que tomou riscos e aceitou estar no olho do furacão".

No artigo publicado em 22 de junho, em um adiantamento do número deste mês da revista "Palabra Nueva" da Arquidiocese de Havana, Márquez recordar o papel da Igreja no país neste processo de mediação que teve início em maio de 2010 quando as Damas de Branco –organização que agrupa as esposas e parentes dos prisioneiros de consciência– se reuniram com o Cardeal Jaime Ortega.

Quando a Igreja aceita ser mediadora ante o governo, diz Orlando Márquez, vê-se ante uma dupla situação: por um lado as Damas de branco "demandavam reunificação familiar, enquanto seus familiares detentos reclamavam mudanças políticas. As autoridades reconheceram o primeiro e não o segundo".

Portanto, precisa o porta-voz da Arquidiocese de Havana, "em nenhum momento foi exposta a possibilidade de uma mediação entre as autoridades e seus opositores, pois não houve reconhecimento nem comunicação mútuos. Seja pelas razões que forem, e não é necessário indicá-las aqui, esse dia não chegou".

"Esperar ou demandar que a Igreja levasse à ‘mesa de negociações’ os opositores às autoridades resultava improcedente neste processo. Negociação é um termo que define outra manifestação. A negociação é o processo pelo qual as partes em conflito procuram resolver suas diferenças, reconhecem-se mutuamente, e o fazem sem necessitar a mediação de terceiros".

Orlando Márquez assinala logo que "entretanto, o que a Igreja tem feito durante muitos anos, é expressar sua convicção de que é necessário escutar a todos os que em Cuba manifestam interesse em contribuir com idéias e esforços pelo bem do país".
O que as Damas de branco solicitaram concretamente foram três coisas, explica Márquez, aproximar os detentos dos seus lugares de residência, pois alguns cumpriam sanção em províncias longínquas; liberar o antes possível os que estavam mais doentes, começando pelo detento Ariel Sigler Amaya; e permitir que seus seres queridos saíssem de Cuba, ainda que fossem sozinhos, pois era preferível a tê-los na prisão.

Em 19 de maio o Cardeal expôs estes pedidos ao governo de Raúl Castro que acolheu favoravelmente o pedido, com o qual "algo inédito e novidadeiro começava a tomar forma em Cuba".

As libertações começaram no dia 1 de junho e dias depois aparece a proposta da Espanha para acolher os libertos que quisessem ir para lá. Ao final do processo, o governo solta um total de 126 prisioneiros, 114 dos quais viajaram à Espanha com familiares (a eles se acrescentou outro que já estava em licença extra-penal), somando perto de 800 pessoas.

Orlando Márquez explica também que o Cardeal Ortega falou pessoalmente com cada um dos prisioneiros e os abençoava se desejavam ir à Espanha, mas "nunca tentou convencer a ninguém a emigrar. Dos 52 (iniciais), só 12 disseram que não desejavam viajar à Espanha, e permanecem em Cuba".

"Uns poucos perguntaram se viajar era uma condição para sair do cárcere, aos quais o cardeal respondia que não, e assegurava-lhes que seriam soltos posteriormente, como ocorreu".

"Aqueles que aceitavam viajar, eram conduzidos a um lugar e seus familiares a outro, separados, enquanto se procedia com os trâmites migratórios, nos quais a Igreja não teve participação alguma".

Ao chegar ao aeroporto, prossegue Márquez, esperavam-nos funcionários da Embaixada e Consulado espanhóis que perguntavam aos ex-detentos "se saíam de Cuba por vontade própria e se este era o caso pediam que assinassem uma declaração de conformidade, pois a Espanha não aceitava transladar ninguém à força. Todos deram seu consentimento e assinaram".

Por essa razão, precisa, "é incorreto afirmar que foram forçados ao exílio, ou obrigados a viajar como condição para não seguir na prisão. Mais incorreto ainda é dizer que o governo cubano e a Igreja se aliaram para desterrar a estas pessoas. A melhor prova contra esta afirmação, possivelmente, sejam os doze que decidiram permanecer em Cuba".

Ao final explica o porta-voz da Arquidiocese de Havana, "por incrível que parecesse com o início, cumpriu-se precisamente o que pediram as mulheres que se reuniram com o cardeal Ortega no dia 1 de maio de 2010. E os governos de Cuba e da Espanha ultrapassaram aqueles pedidos".

Márquez admite logo que "a mediação da Igreja, concretizada nas libertações, não foi a solução ideal. Seu propósito era obter, mediante o diálogo, uma saída para a grande tragédia destas famílias".

"Não há solução ideal em um conflito prolongado e que implicou tantas pessoas localizadas nas mais distintas posições, com critérios diferentes muitas vezes, em meio de debates e pressões políticas de alcance nacional, regional e global".
Um dos milhares de prisioneiros políticos em Cuba

Mas é bom dizer também que "não foi uma mediação neutra,mas comprometida, que tomou riscos e aceitou estar no olho do furacão, tendo para todos, de um lado e do outro, um olhar pastoral e caridoso, a caridade certa que tudo crê, tudo espera e tudo suporta. A caridade que nunca passará, e permanece viva e disposta para toda oportunidade que a reclame".

Orlando Márquez recorda ademais que "as leis que levaram estas pessoas ao cárcere permanecem vigentes. Agora, ou em um futuro não longínquo, é necessário que o país finalmente obtenha um espaço no qual as diferentes opiniões, interesses e critérios, possam encontrar-se e fundir-se em um projeto comum e universal próprio, não amarrado a interesses estrangeiros".

Então, talvez, conclui o porta-voz da Arquidiocese de Havana, "não seria tão necessária a mediação, pois estaríamos na presença de uma sociedade renovada que busca, mediante processos francos e responsáveis por negociação, converter-se na próspera e vigorosa sociedade de todos. Tal negociação ainda não foi programada, nem se vislumbra no horizonte, mas deve ser um propósito".

Nossa Senhora da Caridade de Cuba, padroeira da Ilha Caribenha
Fonte: http://www.acidigital.com/noticia.php?id=22059

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