Sexta-Feira da Cruz de Nosso Senhor

8. Essa é a razão por que dizia o Apóstolo que não queria saber outra coisa senão Jesus e Jesus Crucificado, isto é, o amor que ele nos testemunhou na cruz. “Não julgueis que eu sabia alguma coisa
entre vós senão a Jesus Cristo e este crucificado (1Cor 2,2). E na verdade, em que livros poderíamos aprender melhor a ciência dos santos (que é a ciência de amar a Deus) do que em Jesus Crucificado?
O grande servo de Deus, Frei Bernardo de Corleone, capuchinho, não sabendo ler, queriam seus confrades ensinar-lhe. Ele, porém, foi primeiro aconselhar-se com seu crucifixo e Jesus respondeu-lhe da cruz: “Que livro! Que ler! eu sou o teu livro, no qual poderás sempre ler o amor que eu te consagro!” Oh! que grande assunto de meditação para toda a vida e para toda a eternidade: um Deus morto por meu amor! 9. Visitando uma vez S. Tomás d’Aquino a S. Boaventura, perguntou-lhe de que livro se havia servido para escrever tão belas coisas que havia publicado. S. Boaventura mostrou-lhe a imagem de Jesus crucificado, toda enegrecida pelos muitos beijos que lhe imprimira, dizendo-lhe: “Eis o meu livro, donde tiro tudo o que escreve; ele ensinou-me o pouco que eu sei”. Todos os santos aprenderam a arte de amar a Deus no estudo do crucifixo. Fr. João de Alvérnia, todas as vezes que contemplava Jesus coberto de chagas, não podia conter a lágrimas. Fr. Tiago de Todi, ouvindo ler a Paixão do Redentor, não só derramava abundantes lágrimas, mas prorrompia em soluços, oprimido
pelo amor de que se sentia abrasado por seu amado Senhor. 10. S. Francisco fez-se aquele grande serafim pelo doce estudo do crucifixo. Chorava tanto ao meditar os sofrimentos de Jesus Cristo,
que perdeu quase totalmente a vista. Uma vez encontraram-no chorando em altas vozes e perguntaram-lhe a razão. “O que eu tenho? respondeu o santo, eu choro por causa dos sofrimentos e das
afrontas ocasionadas ao meu Senhor e minha pena cresce e aumenta vendo a ingratidão dos homens que não o amam e dele se esquecem”. Todas as vezes que ouvia balar um cordeiro, sentia grande compaixão, pensando na morte de Jesus, Cordeiro imaculado, sacrificado na cruz pelos pecados do mundo. Por isso, esse grande amante de Jesus nada recomendava com tanta solicitude a seus irmãos como a meditação constante da Paixão de Jesus. 11. Eis, portanto, o livro, Jesus Crucificado, que, se for constantemente lido por nós, também nós aprenderemos de um lado temer o pecado e doutro nos abrasaremos em amor por um Deus tão amante, lendo em suas chagas a malícia do pecado que reduziu um Deus a sofrer uma morte tão amarga para por nós satisfazer a justiça divina e o amor que nos manifestou o Salvador, querendo sofrer tanto para nos fazer compreender o quanto nos amava.
12. Supliquemos à divina Mãe Maria, que nos obtenha de seu Filho a graça de entrarmos nessa fornalha de amor onde ardem tantos corações para que aí sejam destruídos nossos afetos terrenos e
possamos nos abrasar naquelas chamas bem-aventuradas que fazem as almas santas na terra e bem-aventuradas no céu.

Fonte: A Paixão de Nosso Senhor Jesus Cristo - Piedosas e edificantes meditações - sobre os sofrimentos de Jesus - Por Sto. Afonso Maria de Ligõrio - Traduzidas pelo Pe. José Lopes Ferreira, C.Ss.R. - VOLUME I

Comentários

POSTAGENS MAIS ANTIGAS