Sexta-Feira da Cruz de Nosso Senhor

5. Mas como explicar isto, continua a dizer S. Agostinho, que vosso amor tenha chegado a tal ponto, ó Salvador do mundo, que, tendo eu cometido o delito, tenhais vós de pagar a pena? (Medit. c. 7). E
que vos importava, pergunta S. Bernardo, que nos perdêssemos e fôssemos castigados como havíamos merecido? Por que quisestes satisfazer por nossos pecados, castigando vossa carne inocente? Por
que quisestes, Senhor, sofrer a morte para dela nos livrar? Ó misericórdia que não teve e nem terá jamais semelhante! Ó graça que nunca poderíamos merecer! Ó amor que nunca se poderá compreender!
6. Já Isaías predissera que nosso Redentor deveria ser condenado à morte e levado ao sacrifício como um inocente cordeiro (Is 53,7). Que admiração para os Anjos, ó Deus ver seu inocente senhor ser
conduzido como vítima para ser sacrificado sobre o altar por amor do homem! E que espanto para o céu e o inferno ver um Deus condenado à morte como um malfeitor, num patíbulo ignominioso, pelos pecados de suas criaturas!
7. Cristo remiu-nos da maldição da lei, feito por nós maldição, porque está escrito: “Maldito todo aquele que é pendurado no lenho, para que a bênção dada a Abraão fosse comunicada aos gentios por
Jesus Cristo” (Gl 3,13). Pelo que se diz S. Ambrósio: “Ele se fez na cruz maldito para que tu fosses bem-aventurado no reino de Deus”, (Ep. 47). Portanto, meu caro Salvador, vós, para que obterdes a bênção divina, vos sujeitastes a abraçar a vergonha de aparecer na cruz como maldito aos olhos do mundo e abandonado até de vosso eterno Pai, tormento que vos obrigou a exclamar em alta voz: “Meu Deus, meu Deus, por que me abandonastes?” Sim, foi por este motivo que Jesus foi abandonado na sua Paixão, comenta Simão de Cássia, para que nós não ficássemos abandonados nos pecados por nós cometidos (Lib. 13 de pass. Dom.). Ó prodígio de misericórdia! Ó excesso de amor de um Deus para com os homens! E como é possível, meu Jesus, haver almas que nisso crêem e não vos amam?
8. Ele nos amou e nos lavou dos nossos pecados em seu sangue (Ap 1,5). Eis, ó homens, até aonde chegou o amor de Jesus por nós: para lavar-nos das manchas de nossos pecados, ele quis prepararnos
um banho de salvação no seu próprio sangue. Oferece seu sangue, diz um douto autor, que brada mais alto que o de Abel: este pedia justiça; o sangue de Cristo, porém, pede misericórdia. Aqui exclama
S. Boaventura: “Ó bom Jesus, que fizestes? Até onde vos levou o amor? Que coisa vistes em mim que tanto vos enlevou? Por que quisestes padecer tanto por mim? Quem sou eu, que por tão grande preço quisestes granjear o meu amor? Ah! compreendo que tudo é o resultado de vosso amor infinito? Sede para sempre bendito e louvado.
9. Ó vós todos que passais por este caminho, atendei e vede se há dor como a minha dor (Jr 1,12). O mesmo seráfico doutor, considerando estas palavras de Jeremias como pronunciadas por nosso Salvador, quando se achava na cruz morrendo por nosso amor, diz: Eu já percebo, ó meu amante Senhor, quanto padecestes neste madeiro infame, mas o que mais me obriga a amar-vos é compreender o afeto que me testemunhastes padecendo tanto a fim de ser amado por mim.

Fonte: A Paixão de Nosso Senhor Jesus Cristo - Piedosas e edificantes meditações - sobre os sofrimentos de Jesus - Por Sto. Afonso Maria de Ligõrio - Traduzidas pelo Pe. José Lopes Ferreira, C.Ss.R. - VOLUME I

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