Preparação para a morte: Certeza da morte

PONTO II
É certo, pois que todos fomos condenados à mor-te. Todos nascemos — disse São Cipriano — com a corda ao pescoço, e a cada passo que damos mais nos aproximamos da morte. Meu irmão, assim como foste inscrito no livro do batismo, assim, um dia, o serás no registro dos mortos. Assim como, às vezes, mencionas teus antepassados, dizendo: meu pai, meu tio, meu irmão, de saudosa memória, o mesmo dirão de ti teus descendentes. Como muitas vezes tens ouvido planger os sinos pela morte dos outros, assim outros ouvirão que os tocam por ti.
Que dirias de um condenado à morte que se en-caminhasse ao patíbulo galhofando e rindo-se, o-lhando para todos os lados e pensando em teatros, festins e divertimentos? E tu, neste momento, não caminhas também para a morte? E em que pensas? Contempla nessas sepulturas teus parentes e ami-gos, cuja sentença já foi executada. Que terror se apodera de um condenado, quando vê seus compa-nheiros pendentes da forca e já mortos! Observa es-ses cadáveres; cada um deles diz: “Ontem, a mim; hoje, a ti” (Eclo 38,23). O mesmo te repetem, todos os dias, os retratos de teus parentes já falecidos, os livros, as casas, os leitos, as roupas que deixaram.
Que loucura extrema, não pensar em ajustar as contas da alma e não aplicar os meios necessários para alcançar uma boa morte, sabendo que temos de morrer, que depois da morte nos está reservada uma

eternidade de gozo ou de tormento, e que desse pon-to depende o sermos para sempre felizes ou desgra-çados! Temos compaixão dos que morrem repenti-namente e não se acham preparados para a morte e, contudo, não tratamos de nos preparar, a fim de não nos acontecer o mesmo. Cedo ou tarde, quer esteja-mos apercebidos, quer de improviso, pensemos ou não na morte, ela há de vir; e a toda hora, a cada ins-tante nos vamos aproximando do nosso patíbulo, ou seja da última enfermidade que nos deve tirar deste mundo.
Em cada século, as casas, as praças, as cidades enchem-se de novos habitantes. Os antigos estão no túmulo. Assim como para estes passaram os dias da vida, assim virá o tempo em que nem tu nem eu, nem pessoa alguma das que vivemos atualmente, existirá na terra. Todos estaremos na eternidade, que será, para nós, ou intérmino dia de gozo, ou noite eterna de tormentos. Não há aqui meio termo. É certo, e é de fé que um ou outro destino nos espera.
AFETOS E SÚPLICAS
Meu amado Redentor! Não me atreveria a apa-recer diante de vós, se não vos visse pregado à cruz, despedaçado, escarnecido e morto por minha causa. Grande é minha ingratidão, porém maior é ainda vos-sa misericórdia. Muito grandes foram meus pecados, maiores são vossos méritos. Em vossas chagas, em vossa morte ponho minha esperança.

Mereci o inferno desde o primeiro momento do meu pecado e, apesar disso, voltei a ofender-vos mil e mil vezes. E vós, não só me haveis conservado a vida, mas com extrema bondade e amor me ofere-cestes o perdão e a paz. Como posso recear que me afasteis agora que vos amo, e que não desejo senão vossa graça? Sim, amo-vos de todo o coração, ó meu Senhor, e meu único anseio é amar-vos. Adoro-vos, e pesa-me de ter-vos ofendido, não tanto porque mere-ci o inferno, como por ter desprezado a vós, meu Deus, que tanto me amais. Abri, pois, meu Jesus, o tesouro de vossa bondade, e acrescentai misericórdia a misericórdia. Fazei com que eu não torne a ser in-grato para convosco e mudai completamente o meu coração, a fim de que seja todo vosso, e inflamado sempre pelas chamas do vosso amor, já que outrora vos menosprezou, preferindo os vis prazeres deste mundo.
Espero alcançar o paraíso, para vos amar sem-pre; e ainda que ali não poderei tomar lugar entre os inocentes, colocar-me-ei ao lado dos penitentes, de-sejando, entre estes, amar-vos mais que os inocen-tes.
Para glória da vossa misericórdia, veja o céu co-mo arde em vosso amor um pecador que tanto vos ofendeu. Tomo hoje a resolução de entregar-me todo a vós, e de só pensar em vos amar. Ajudai-me com vossa luz e graça, a fim de que cumpra este desejo, inspirado também por vossa bondade.

Ó Maria, Mãe da perseverança, alcançai-me a graça de ser fiel à minha promessa!

Fonte: Preparação para a Morte - Santo Afonso Maria de Ligório - Considerações sobre as verdades eternas - Tradução de Celso de Alencar - Versão PDF de FL. Castro - 2004

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