Sexta-Feira da Cruz de Nosso Senhor

CAPÍTULO II

Jesus quis padecer tanto por nós, para nos fazer compreender o grande amor que nos consagra

1. Duas coisas fazem conhecer um amigo, escreve Cícero: fazer-lhe bem e padecer por ele, e esta é a maior prova de um verdadeiro amor. Deus já tinha demonstrado seu amor ao homem, dispensandolhe
inúmeros benefícios, mas, segundo S. Pedro Crisólogo, beneficiar unicamente ao homem parecer-lhe-ia muito pouco a seu amor, se não tivesse encontrado o modo de demonstrar-lhe quanto o amava,
padecendo e morrendo por ele, como o fez de fato, tomando a natureza humana (Serm. 69). E que maneira mais apta poderia Deus encontrar para manifestar-nos o amor imenso que nos consagra, do
que fazer-se homem e padecer por nós? Não poderia se manifestar de outra maneira o amor de Deus para conosco, escreve a esse respeito S. Gregório Nazianzeno. Meu amado Jesus, muito vos tendes
esforçado por demonstrar-me vosso afeto e patentear-me vossa bondade. Grande, pois, seria a ofensa a vós feita, se vos amasse pouco ou amasse outra coisa além de vós. 2. Cornélio a Lápide diz que Deus nos deu o maior sinal de amor, deixando-se ver coberto de chagas, pregado à cruz e morto por nós.
E antes dele, disse S. Bernardo que Jesus em sua Paixão nos fez conhecer que seu amor para conosco não podia ser maior do que foi (De pass. c. 14). Escreve o Apóstolo que, quando Jesus Cristo quis
morrer por nossa salvação, demonstrou até onde chegava o amor de um Deus para conosco, miseráveis pecadores (Tito 3,4). Ah! meu amante Salvador, compreendo: todas as vossas chagas me falam do
amor que me tendes. E quem poderá deixar de vos amar, depois de tantos sinais de vossa caridade? S. Teresa tinha razão de dizer, ó amabilíssimo Jesus, que quem não vos ama demonstra que vos desconhece.
3. Jesus Cristo, mesmo sem padecer e levando na terra uma vida agradável e deliciosa, poderia nos obter a salvação. Mas, como diz S.Paulo, havendo-lhe sido proposto o gozo, sofreu na cruz (Hb 12,2).
Ele recusou as riquezas, as delícias, as honras terrestres, e escolheu uma vida pobre e uma morte cheia de dores e de opróbrios. E por quê? Não seria suficiente se ele tivesse suplicado ao Padre Eterno,
com uma petição simples, que perdoasse ao homem a qual, sendo de valor infinito, bastaria para salvar o mundo e infinitos mundos? porque foi que ele quis suportar tantos tormentos e uma morte tão cruel,
havendo se separado a alma de Jesus de seu corpo exclusivamente por pura dor, como nota um autor? (Contens. 1. 10, d. 4 c. 1). Por que tanto esforço para remir o homem? “Se uma prece de Jesus bastava
para remir-nos, responde S. João Crisóstomo (Serm. 128), contudo não bastou para nos demonstrar o amor que este Deus nos tinha. O que bastava à redenção não bastava ao amor”. E S. Tomás confirmao,
dizendo: “Cristo, sofrendo por amor, pagou a Deus mais do que exigia a reparação da ofensa do gênero humano” (III q. 48, a. 2). Porque Jesus muito nos amava, desejava também ser muito amado por nós e por essa razão fez o quanto pôde, mesmo a preço de sofrimentos, para conquistar o nosso amor e nos fazer compreender que nada mais lhe restava fazer para ser amado por nós. Ele quis padecer muito, para obrigar-nos a amá-lo muito, diz S. Bernardo

Fonte: A Paixão de Nosso Senhor Jesus Cristo - Piedosas e edificantes meditações - sobre os sofrimentos de Jesus - Por Sto. Afonso Maria de Ligõrio - Traduzidas pelo Pe. José Lopes Ferreira, C.Ss.R. - VOLUME I

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