Sexta-Feira da Cruz de Nosso Senhor

CAPÍTULO V
Do amor que Jesus nos mostrou, deixando-se a si mesmo em comida antes de entregar-se à morte.

1. Sabendo Jesus que era chegada a sua hora de passar deste mundo ao Pai, tendo amado os seus, amou-os até ao fim (Jo 13,1). Nosso amantíssimo Redentor, na última noite de sua vida, sabendo
que já era chegado o tempo suspirado de morrer por amor dos homens, não teve ânimo de nos deixar sós neste vale de lágrimas. e para não se separar de nós nem mesmo depois de sua morte, quis deixar-se-nos todo em alimento no Sacramento do altar. Com isto deu-nos a entender que, depois desse dom infinito, não tinha mais o que dar-nos para nos testemunhar o seu amor. Cornélio e Lápide, com S. Crisóstomo e Teofilacto, explica segundo o texto grego a palavra até ao fim e escreve: É como se dissesse: amouos com um amor supremo e sem limites. Jesus neste sacramento fez o último esforço de amor para o homem, como diz o Abade Guerrico (Serm. de Ascens.). Essa idéia foi ainda mais bem expressa pelo sagrado Concílio de Trento, que, falando do sacramento do altar, disse que nele nosso Salvador derramou, por assim dizer, todas as riquezas de seu amor para conosco. (Sess. 13, c.2). Tinha, pois, razão S. Tomás d’Aquino de chamar este sacramento de sacramento de amor e o maior penhor de amor que um Deus nos podia dar (Op. 18, c. 25). E S. Bernardo o chamava amor dos amores. S. Maria Madalena de Pazzi dizia que uma alma depois de comungar pode exclamar: “Tudo
está consumado”, já que o meu Deus, tendo-se dado todo a mim nesta comunhão, nada mais tem para comunicar-me. Uma vez perguntou esta santa a uma de suas noviças em que havia pensado depois da comunhão? Respondeu-lhe a noviça: no amor de Jesus. Sim, replicou então a santa, quando se pensa no amor, não se pode ir mais avante, antes é preciso deter-se nele. O Salvador do mundo, que pretendeis dos homens, deixando-vos levar a dar-lhes como ali mento o vosso próprio ser? E que mais vos resta dar-nos, depois deste sacramento para nos obrigar a vos amar? Ah! meu Deus amantíssimo, iluminai-me para que conheça qual foi o excesso de bondade que vos reduziu a vos fazerdes minha comida na santa comunhão. Se, pois, vos destes inteiramente a mim, é justo que eu também
me dê todo a vós. Sim, Jesus, eu me dou todo a vós, vos amo acima de todos os bens e desejo receber-vos para vos amar ainda mais. Vinde, sim, vinde muitas vezes à minha alma e fazei-a toda
vossa. Ah! se eu pudesse dizer que em verdade como S. Filipe Néri ao receber a comunhão em viático: “Eis aí o meu amor, eis aí o meu amor; dai-me o meu amor.”

Fonte: A Paixão de Nosso Senhor Jesus Cristo - Piedosas e edificantes meditações - sobre os sofrimentos de Jesus - Por Sto. Afonso Maria de Ligõrio - Traduzidas pelo Pe. José Lopes Ferreira, C.Ss.R. - VOLUME I

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