Catecismo Romano: "Creio no Espírito Santo" (Parte IV)
Cristo Nosso Senhor disse, numa ocasião em que falava do
Espírito Santo: "Ele me glorificará, porque há de tomar o que é
meu"(Jo 16,14).
A mesma verdade se releva do fato de que, nas Sagradas
Escrituras, o Espírito Santo é chamado, ora "Espírito de Cristo"(Atos
16,7), ora pelo "Espírito do Pai"(Rom 8,9; Atos 8,39). Ora se diz que
é enviado pelo Pai (Atos 2,17; Mt 10,20; Jo 14,26; Gal 4,6), ora pelo Filho (Jo
15,26; 16,7), para mostrar, com bastante clareza, que tanto procede do Pai,
como do Filho.
Diz São Paulo: "Quem não possui o Espírito de Cristo,
esse lhe não pertence"(Rom 8,9). Escrevendo aos Gálatas, chama-lhe
Espírito de Cristo: "Enviou Deus a vossos corações o Espírito de seu
filho, que clama: Abba, Pai!"(Gal 4,6).
Em São Mateus, é chamado "Espírito do Pai":
"Não sois vós quem fala, mas o Espírito de vosso Pai"(Mat 10,20). Na
última ceia, o Senhor explicou-se assim: "O consolador que Eu vos enviar,
é o Espírito da verdade, que procede do Pai, Ele dá testemunho de mim"(Jo
15,26). Noutra parte, afirma que o mesmo Espírito Santo será enviado pelo Pai:
"O Pai há de enviá-lo em Meu nome"(Jo 14,26). Ora, devemos entender
que tal linguagem se refere a processão do espírito Santo; mostra, pois,
claramente, que o Mesmo procede de ambos.
São estes os pontos que se devem ensinar, com referência à
Pessoa do Espírito Santo.
É preciso ensinar que existem certos efeitos admiráveis, e
certos dons sublimes do Espírito Santo, que dele nascem e se derivam, como de
uma fonte inexaurível de bondade.
Ainda que as operações exteriores da Santíssima Trindade são
comum as três pessoas, muitas delas se atribuem como próprias do Espírito Santo,
para entendermos que partem do imenso amor de Deus para conosco. Já que o
Espírito Santo procede da vontade divina, e enquanto abrasada de amor, é óbvio
que as operações, atribuídas propriamente ao Espírito Santo, promanam do
soberano amor de Deus para conosco.
Por isso, o Espírito Santo chama-se "dom",
conceito que exprime uma doação, feita por benevolência, a título gratuito, sem
nenhum interesse de retribuição. Se o Apóstolo pergunta: "Que temos nós,
que de Deus não temos recebido?"(1Cor 4,7) - devemos reconhecer, com
piedosa gratidão, que todos os bens e benefícios que de Deus recebemos, nos
foram concedidos por mercê e graça do Espírito Santo.
São várias, porém, as suas operações. Sem realçar aqui a
criação do mundo, a propagação e a direção das criaturas - assunto já tratado
no primeiro artigo do credo - acabamos de ver, há pouco, que o Espírito Santo
se atribui de modo peculiar a vivificação, conforme o atesta Ezequiel:
"Dar-vos-ei o Espírito, e vivereis"(Ezeq 37,6).
Ora, os efeitos principais e mais próprios do Espírito
Santo, o profeta os enumera: "O Espírito de sabedoria e inteligência, o
Espírito de conselho e de fortaleza, o Espírito de ciência e de piedade, e o
Espírito de do temor de Deus"(Isa 11,2-3; ver também: Gal 6,2).
Estes efeitos se chama dons do Espírito Santo, e por vezes
levam até o nome de Espírito Santo. Por conseguinte, quando ocorre nas
Escrituras o nome de "Espírito Santo", é com prudência que Santo
Agostinho nos manda verificar se designa a Terceira Pessoa da Santíssima
Trindade, ou apenas seus dons e operações. Estes dois sentidos diferem tento
entre si, quanto cremos que o Criador difere das criaturas.
São estes os pontos que exigem maior explicação, pois que pelos dons do Espírito Santo chegamos a conhecer as normas da vida cristã, e por eles podemos verificar se em nós habita o Espírito Santo.
Entre todos e mais dons de sua liberalidade, devemos
enaltecer a graça de justificação, porquanto nos assinala com o "prometido
Espírito Santo, que é penhor de nossa herança"(Efe 1,13-14).
Esta é que, num elo íntimo de amor, une nossa alma a Deus.
Tem por efeito que, abrasados por intenso ardor de piedade, começamos vida
nova; que, "participando da natureza divina"(2Ped 1,4),
"recebemos o nome de filhos de Deus, e o somos na realidade"(1Jo
3,1).
(Fonte: Catecismo da Igreja Católica - 1962 - Ed. Vozes)
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