Domingo da Septuagésima: "Ide vós também para a minha vinha" (Ev.)
Depois assistirmos à recepção entusiástica
com que a Igreja recebeu o Verbo encarnado, vamos entrar nos recessos tenebrosos
da decadência humana.
A Septuagésima principia sempre na nona semana antes da
Páscoa e compreende os três domingos denominados: Septuagésima, Sexagésima e
Qüinquagésima. A designação derivante do sistema de numeração em uso, marca a
série das dezenas sobre que recaem estes domingos. Com efeito se dividirmos as
nove semanas antes da Páscoa em séries de dez dias, poderemos constatar que o
primeiro Domingo dos 9 domingos cai na sétima dezena, o segundo na 6ª dezena e
o terceiro na 5ª dezena.
A festa da Páscoa é móvel e pode ser celebrada conforme os
anos, entre os dias 22 de Março e 25 de Abril. Quando vem mais cedo, a
Septuagésima começa ainda no tempo da Epifania.
O tempo da Septuagésima é o prelúdio do grande jejum da
Quaresma e serve de preparação remota para as festas da Páscoa. Serve de
transição a alma cristã que deve passar das alegrias do Natal para as
penitências austeras da Quaresma. E se o jejum ainda não é rigoroso, a cor dos
paramentos já é roxa, a cor da penitência. Não se reza o Glória, porque esse
canto de alegria que celebrou Cristo nascido em nossa carne mortal, deve se
cair durante este período de tristeza, que envolve a alma da Igreja por causa
dos pecados dos homens, para irromper de novo no dia da ressurreição.
A Quaresma, de quarenta dias e as três décadas da
Septuagésima, simbolizam perfeitamente os setenta anos de cativeiro na
Babilônia. Este tempo termina para o ciclo litúrgico na Quarta-Feira de Cinzas.
A aproximação dos textos do breviário e do missal, essa
semana, esclarece-lhes singularmente o sentido e a importância. As lições e os
responsórios dos ofícios da noite são tirados do Gênesis e relatam a história
da criação do mundo e do homem, a queda dos primeiros pais, a promessa do
redentor e finalmente a morte de Abel e a seqüela das gerações até Noé.
"No princípio, diz o livro santo, Deus criou o Céu e a Terra, formou o
homem e colocou-o num Jardim de delícias para o cultivar". Jesus Cristo,
observa São Gregório, diz-nos que o Reino dos Céus é semelhante a um Pai de
família que assalaria um monte de operários para a sua vinha. Olha quem pode
melhor representar o Pai de Família que o Criador, que governa com a sua
providência tudo que é criado neste mundo e traz neste mundo os seus escolhidos
como o Senhor traz o Servo na sua casa? A vinha é a Igreja. Todos os aplicaram
com retidão à prática do bem e exortaram os outros com a palavra ou com o
exemplo a enveredar pelos caminhos da virtude, são operários desta vinha. Pelos
da primeira, terceira, sexta e nona hora, quis o Senhor designar o povo judeu,
que desde o princípio se esforçou a servir a Deus na pessoa de seus profetas e
de seus santos não cessou de trabalhar no cultivo da vinha. Pelos da Undécima,
designou os gentios e a eles se dirige:" Porque estais aqui o dia todo sem
fazer nada?" Todos os homens são pois convidados a trabalhar na vinha do
Senhor, quer dizer, na própria santificação e na alheia, e glorificar por este
modo a Deus. Mas Adão falhou na sua missão: "porque tu comeste do fruto da
árvore que te ordenara que não comesse, a terra por tua causa será maldita e
tirará dela teu sustento à força do trabalho. Só dará espinhos e cardos.
Comerás o pão do suor do teu rosto até que voltes da terra donde saístes."
Exilados do Paraíso, diz Santo Agostinho, o primeiro homem comunicou a pena de
morte e reprovação a todos os descendentes. O gênero humano, assim condenado,
foi por assim dizer afundado na desgraça que vai arrastando consigo através das
misérias da vida. Os textos das missas estão cheios dos mesmos pensamentos. "Dores
de morte me cercaram", diz o Intróito. E é com justiça, diz a oração, que
sofremos pelos nossos pecados. A Epístola nos apresenta a vida como um circo
onde é necessário lutar para ganhar a coroa. O denário da vida Eterna,
acrescenta o evangelho, será dado só aquele que trabalhar na vinha do Senhor.
Deus na sua sabedoria preferiu, diz Santo Agostinho, tirar bem do mal, e não
permitir mal algum. Deus com efeito compadeceu-se dos homens e prometer-lhes um
segundo Adão que restabeleceria a ordem perturbada pelo primeiro. O Paraíso era
a "sombra duma vida mais perfeita". Exilados de lá com Adão veio nos
abrir as portas e dar-nos a oportunidade de lá entrarmos. Senhor, canta a
Igreja, vós sois o nosso auxílio na angústia e na indigência. Tendes o perdão
convosco, iluminais sobre nós a vossa face e salvai-nos.
A missa da Septuagésima assim estudada prepara-nos para
começar este novo período do ano litúrgico com uma compreensão mais perfeita
dos mistérios pascais. Aprende-se melhor deste modo tudo o que a Páscoa
representa e o que a Igreja nos ensina quando diz: Deus criou o homem duma
maneira admirável e o resgatou de uma maneira mais admirável ainda.
Evangelho
de Domingo:
Continuação
do Santo Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo segundo São Mateus:
Naquele tempo:
Com efeito, o Reino dos céus é semelhante a um pai de família que saiu ao romper da manhã, a fim de contratar operários para sua vinha.
Ajustou com eles um denário por dia e enviou-os para sua vinha.
Cerca da terceira hora, saiu ainda e viu alguns que estavam na praça sem fazer nada.
Disse-lhes ele: - Ide também vós para minha vinha e vos darei o justo salário.
Eles foram. À sexta hora saiu de novo e igualmente pela nona hora, e fez o mesmo.
Finalmente, pela undécima hora, encontrou ainda outros na praça e perguntou-lhes: - Por que estais todo o dia sem fazer nada?
Eles responderam: - É porque ninguém nos contratou. Disse-lhes ele, então: - Ide vós também para minha vinha.
Ao cair da tarde, o senhor da vinha disse a seu feitor: - Chama os operários e paga-lhes, começando pelos últimos até os primeiros.
Vieram aqueles da undécima hora e receberam cada qual um denário.
Chegando por sua vez os primeiros, julgavam que haviam de receber mais. Mas só receberam cada qual um denário.
Ao receberem, murmuravam contra o pai de família, dizendo:
- Os últimos só trabalharam uma hora... e deste-lhes tanto como a nós, que suportamos o peso do dia e do calor.
O senhor, porém, observou a um deles: - Meu amigo, não te faço injustiça. Não contrataste comigo um denário?
Toma o que é teu e vai-te. Eu quero dar a este último tanto quanto a ti.
Ou não me é permitido fazer dos meus bens o que me apraz? Porventura vês com maus olhos que eu seja bom?
Assim, pois, os últimos serão os primeiros e os primeiros serão os últimos. [ Muitos serão os chamados, mas poucos os escolhidos.]
Com efeito, o Reino dos céus é semelhante a um pai de família que saiu ao romper da manhã, a fim de contratar operários para sua vinha.
Ajustou com eles um denário por dia e enviou-os para sua vinha.
Cerca da terceira hora, saiu ainda e viu alguns que estavam na praça sem fazer nada.
Disse-lhes ele: - Ide também vós para minha vinha e vos darei o justo salário.
Eles foram. À sexta hora saiu de novo e igualmente pela nona hora, e fez o mesmo.
Finalmente, pela undécima hora, encontrou ainda outros na praça e perguntou-lhes: - Por que estais todo o dia sem fazer nada?
Eles responderam: - É porque ninguém nos contratou. Disse-lhes ele, então: - Ide vós também para minha vinha.
Ao cair da tarde, o senhor da vinha disse a seu feitor: - Chama os operários e paga-lhes, começando pelos últimos até os primeiros.
Vieram aqueles da undécima hora e receberam cada qual um denário.
Chegando por sua vez os primeiros, julgavam que haviam de receber mais. Mas só receberam cada qual um denário.
Ao receberem, murmuravam contra o pai de família, dizendo:
- Os últimos só trabalharam uma hora... e deste-lhes tanto como a nós, que suportamos o peso do dia e do calor.
O senhor, porém, observou a um deles: - Meu amigo, não te faço injustiça. Não contrataste comigo um denário?
Toma o que é teu e vai-te. Eu quero dar a este último tanto quanto a ti.
Ou não me é permitido fazer dos meus bens o que me apraz? Porventura vês com maus olhos que eu seja bom?
Assim, pois, os últimos serão os primeiros e os primeiros serão os últimos. [ Muitos serão os chamados, mas poucos os escolhidos.]
Lefebvre, Dom
Gaspar. Missal Quotidiano e Vesperal. Bruges, Bélgica; Abadia de S. André, 1960
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