Preparação para a morte: A vida presente é uma viagem para a Eternidade II
“Faça-se a vossa vontade!...” |
PONTO II
Se a árvore
cair para a parte do meio-dia ou para a do norte, em qualquer lugar onde cair,
ali ficará (Ecl 11,3). Para o lado em que cair, na hora da morte, a árvore de
tua alma, ali ficará para sempre. Não há, pois, termo médio: ou reinar
eternamente na glória, ou gemer como escravo no inferno. Ou sempre ser
bem-aventurado, num mar de dita inefável, ou ficar para sempre desesperado num
abismo de tormentos.
São João
Crisóstomo, considerando que aquele rico, qualificado de feliz no mundo, foi
logo condenando ao inferno, enquanto que Lázaro, tido como infeliz porque era
pobre, foi depois felicíssimo no céu, ex-clama: “Ó infeliz felicidade, que
trouxe ao rico eterna desventura!... Ó feliz desdita, que levou o pobre à felicidade
eterna!” De que serve inquietar-se, como fazem alguns, dizendo: “Sou réprobo ou
predestinado?...” Quando se derruba uma árvore, para que lado cai?... Cai para
onde está inclinada... Para que lado te inclinas, meu irmão?... Que vida
levas?... Procura inclinar-te sempre para Deus; conserva-te na sua graça, evite
o pecado, e assim te salvarás e serás predestinado ao céu. Para evitar o
pecado, tenhamos presente sempre o grande pensamento
da eternidade, como com razão lhe chama Santo
Agostinho. Este pensamento moveu muitos jovens a abandonar o mundo e a viver na
solidão para se ocuparem unicamente dos negócios da alma. E acertaram efetivamente,
pois agora no céu se regozijam de sua resolução, e poderão regozijar-se por
toda a eternidade.
Uma senhora,
divorciada de Deus, converteu-se e foi ter com o beato M. Ávila, que se limitou
a dizer-lhe: Pensai senhora, nestas duas palavras: sempre, nunca. O Padre Paulo Ségneri, por um
pensamento que teve certa vez da eternidade, não pôde conciliar o sono, e desde
então se entregou à vida mais austera.
Refere
Dressélio que um bispo, dominado pelo pensamento da eternidade, levava vida
santíssima, repetindo sem cessar de si para si estas palavras: “a cada instante
estou às portas da eternidade”. Certo monge encerrou-se num túmulo e não
cessava de exclamar: “Ó eternidade, eternidade!...” “Quem crê na eternidade —
dizia o citado Padre Ávila — e não vive como santo devia estar encerrado numa
casa de doidos!”
AFETOS E
SÚPLICAS
Meu Deus
tende piedade de mim!... Saiba que, pecando, me condenava mesmo às penas eternas,
e apesar disso quis me opor à vossa vontade santíssima... Por quê?... Por um
prazer miserável...
Perdoai-me,
Senhor, que me arrependo de todo coração. Não me rebelarei nunca contra vossa
santa vontade. Desgraçado de mim se me tivésseis feito morrer no tempo da minha
má vida! Estaria já no inferno, aborrecendo vossa vontade. Mas agora a estimo e
quero estimá-la sempre.
Ensinai-me e
ajudai-me a cumprir no futuro vosso divino beneplácito (Sl 142,10). Nunca mais
vos quero contradizer, ó Bondade infinita; mas vos dirigirei unicamente esta
súplica: “Faça-se vossa vontade, assim na terra como no céu”. Fazei que cumpra
plenamente vossa vontade e nada mais desejo. Pois que outra coisa quereis, meu
Deus, senão meu bem e minha salvação? Ah, Pai Eterno, ouvi-me por amor de Jesus
Cristo, que me ensinou a pedir-vos tudo em seu nome: Fiat voluntas tua! Fiat
voluntas tua! “Faça-se a vossa
vontade!...” Oh! Ditoso de mim, se passar o resto da vida e morrer fazendo
vossa vontade!...
Ó Maria, bem-aventurada Virgem, que executastes
sempre com toda a perfeição a vontade de Deus, alcançai-me por vossos méritos
que a cumpra até ao fim de minha vida.
Fonte: Preparação para a Morte - Santo Afonso Maria de Ligório - Considerações sobre as verdades eternas - Tradução de Celso de Alencar - Versão PDF de FL. Castro - 2004
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