Teologia Ascética e Mística: Da Parte de Jesus na Vida Cristã (Parte V)

Esta dupla ação de Cristo e do Espírito Santo, que falamos na semana passada, longe de se embraçar múltuamente, completa-se. O Espírito Santo vem-nos por Jesus Cristo. Quando Jesus vivia na terra possuía em sua alma a plenitude do Espírito; pelas suas ações e sobretudo pelos seus sofrimentos e pela sua morte, mereceu-nos que este mesmo Espírito nos fosse comunicado: é, pois, graças a Ele que o Espírito Santo nos vem comunicar a vida e as virtudes de Cristo; e nos torna semelhantes a Ele. Assim, tudo se explica, Jesus sendo homem, é o único que pode ser a cabeça de um corpo místico composto por homens, já que a cabeça e os membros devem ser da mesma natureza: mas, como homem, não pode por si mesmo conferir a graça necessária `vida dos seus membros: o Espírito Santo supre-o desempenhando esta função; mas como o faz em virtude dos merecimentos do Salvador, pode-se dizer que o influxo vital parte verdadeiramente de Jesus para chegar a seus membros.

Quais são os membros deste Corpo Místico? Todos os batizados. É efetivamente, pelo batismo que somos incorporados em Cristo, diz São Paulo: "Etenim in uno Spiritus omnes nos in unum corpus batizati sumus". Eis o motivo porque ele ajunta os que foram batizados em Cristo: o que o Decreto aos Armênios explica: dizendo que pelo Batismo nos tornamos membros de Cristo e do Corpo da Igreja: "per ipsum (baptismum) enim membra Christi ac de corpore efficimur Ecclesiae"(Gal 3,25).

Daqui resulta que todos os batizados são membros de Cristo, mas em graus diversos: os justos estão lhes unidos pela graça habitual e por todos os privilégios que a acompanham: os pecadores pela fé e pela esperança; os bem-aventurados pela visão beatífica. - Quanto aos infiéis não são atualmente membros do seu corpo místico, mas enquanto estão na terra são chamados a sê-lo; só os condenados estão para sempre excluídos deste privilégio.

Consequencias do dogma: É sobre esta incorporação em Cristo que se baseia a comunicação dos Santos: os justos da terra, as almas do purgatório e os santos do Céu fazem todo parte do corpo místico de Cristo, todos participam de sua vida, recebem a sua influência, e devem amar-se e auxiliar-se mutuamente como membros de um mesmo corpo. Portanto, nos diz São Paulo: "se um membro sofre todos os membros sofrem com ele, e se um membro é glorificado todos se regozijam com ele"( ICor 12,26).

É por isso que todos os cristãos são irmãos; doravante não há nem mas judeus nem grego, nem homem livre, nem escrevo; somos todos um em Cristo Jesus (Rom 10,12). Somos, pois, todos solidários e o que é útil a um é útil aos outros, portanto, seja qual for a diversidade dos dons e dos ofícios, o corpo todo aproveita do que há de bom em cada um dos membros, do mesmo modo que cada membro aproveita, por seu turno dos bens do corpo todo. É ainda esta doutrina que explica o motivo porque Nosso Senhor pode dizer: o que fazeis ao menor dos meus, é a mim que o fazeis, é que na realidade a cabeça se identifica com os membros.

Daqui resulta que segundo a doutrina de São Paulo, os cristãos são o complemento de Cristo: Deus com efeito: deu-o por cabeça suprema a Igreja que é seu Corpo, a plenitude daquele que enche tudo em nós em todos: "Ipsum dedit caput supra omnes Ecclesiam, quae est corpus ipsius et plenitudo ejus, qui omnia in omnibus adimpletur"(Efe 1,23).

E na verdade Jesus perfeito em si mesmo, necessita de um complemento para forma um corpo místico: sob este aspecto, não se basta em si mesmo, precisa de membros para exercer todas as funções vitais. Também M Olier concluiu: "Emprestemos as nossas almas ao Espírito de Jesus Cristo, para que ele cresça em nós, se ele encontrar sujeitos dispostos, dilata-se, aumenta, difunde-se nos seus corações, e embalsama-os da unção espiritual de que ele mesmo está embalsamado". - É assim que podemos e devemos completar a Paixão do Salvado Jesus, sofrendo como ele sofreu, afim de que esta Paixão tão completa em si mesma, se complete ainda mais nos seus membros através dos tempos e do espaço: "Adimpleo ea quae desunt passionum Christi in carne mea pro corpore ejus quod est Eclesiae" (Col 1,24). Como se ve, pois, não há nada mais fecundo do que esta doutrina sobre o Corpo Místico de Nosso Senhor.

(Fonte: Compêndio de Teologia e Ascética e Mística - AD. Tanquerey - 1961)

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