Teologia Ascética e Mística: Devoção ao Verbo Encarnado

De tudo o que levamos dito sobre o papel de Jesus na vida espiritual, resulta que, para cultivar esta vida devemos viver uma união íntima, afetuosa e habitual com Ele, em outros termos, praticar a devoção ao Verbo incarnado: "Qui manet in me et ergo in eo, hic fert fructum multum: Aquele que permanece em mim e Ele nele, produz frutos abundantes (Jo 15,5).

É o que no ensina a Santa Igreja, recordando-nos ao fim do Cânon da Missa, que é por Ele que recebemos todos os bens espirituais, por Ele nós somos santificados, vivificados e abençoados, por Ele, com Ele, e nele devemos render toda honra e glória a Deus Pai todo-poderoso, na unidade do Espírito Santo. É um programa completo de vida espiritual: tendo recebido tudo de Deus em Jesus Cristo, é por Ele que devemos glorificar a Deus, por Ele devemos pedir novas graças, por Ele e com Ele devemos praticar todas as nossas ações.

Sendo Jesus o perfeito adorador de seu Pai, ou como diz M. Olier, o religioso de Deus, o único que podem oferecer homenagens infinitas, é evidente que, para tributarmos o devido culto a Santíssima Trindade, não podemos fazer nada melhor, que unir-nos estreitamente a Ele, cada vez que devemos cumprir com os nossos deveres de religião. o que é tanto mais fácil, quanto Jesus, sendo como é a cabeça de um corpo místico dos quais nós somos os membros, adora a seu Pai não somente em seu nome, mas em nome de todos aqueles que são incorporados neles, e pões a nossa disposição as homenagens que presta a Deus, permitindo-nos que nos apropriemos delas, para oferecermos a Santíssima Trindade.

É igualmente por Ele e com Ele que de forma mais eficaz podemos pedir novas graças; porquanto Jesus, Sumo Sacerdote, não cessa de interceder por nós, "semper vivens ad interpellandum pro nobis" (Heb 7,25). Até mesmo quando tivermos a infelicidade de ofender a Deus, Ele advoga em nossa causa com tanta eloquência quanto é certo que oferece ao mesmo tempo o seu sangue derramado por nós: "Filhinhos meus, isto vos escrevo para que não pequeis. Mas, se alguém pecar, temos um intercessor junto ao Pai, Jesus Cristo, o Justo. Ele é a expiação pelos nossos pecados, e não somente pelos nossos, mas também pelos de todo o mundo." (1Jo 2,1-2). Além disso, dá as nossas orações um valor tal que, se pedirmos em seu nome, isto é, apoiados nos seus merecimentos infinitos, temos a certeza de sermos atendidos: "Em verdade, em verdade vos digo: o que pedirdes ao Pai em meu nome, ele vo-lo dará." (Jo 16, 23). O valor dos seus méritos é efetivamente comunicados a seus membros, e Deus não pode recusar nada a seu Filho: "Nos dias de sua vida mortal, dirigiu preces e súplicas, entre clamores e lágrimas, àquele que o podia salvar da morte, e foi atendido pela sua piedade.(Heb 5,7).

Enfim é em união com Ele que devemos praticar todas as nossas ações, tendo habitualmente, segundo uma bela expressão de M. Olier, Jesus diante dos olhos, isto é, considerando como modelo que devemos imitar, e assim, perguntar-nos como São Vicente de Paulo: O que faria Jesus se estivesse em meu lugar? - no coração atraindo a nós as suas disposições interiores, a sua pureza de intenção, o seu fervor, para praticarmos as nossas ações com seu espírito: - nas mãos, executando com generosidade, energia e constância as boas inspirações que Ele nos sugeriu.

Então será transformada a nossa vida, e viveremos da vida em Cristo: "Eu vivo, mas já não sou eu que vivo é Cristo que vive em mim" (Gal 2,20).

(Fonte: Compêndio de Teologia e Ascética e Mística - AD. Tanquerey - 1961)

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