Catecismo Romano: A vida eterna (Parte I)

I. Importância deste artigo: Nosso guias, os santos Apóstolos, quiseram que o remate do Símbolo, em que se contém um breve compêndio de nossa fé, fosse o artigo sobre a vida eterna. De um lado, porque após a ressurreição da carne, os fiéis nada tem para esperar senão o prêmio da vida eterna. De outro lado, porque devemos ter sempre em vista aquela felicidade perfeita, com a plena posse de todos os bens, pra aprendermo a concentrar nela todos os nossos pensamentos e todas as nossas aspirações.

Por isso, na instrução dos fiéis, os párocos nunca deixarão de encorajá-los com a promessas dos bens eternos. Quando então lhes ensinarem os duríssimos sacrifícios, que devem fazer pelo nome de cristãos, os fiéis os acharão fáceis e suaves, e torna-se-ão mais dóceis e ligeiros para obedecer a Deus (Sab 3,1-9).

II. Explicação Verba: A vida eterna - Os termos aqui empregados pra exprimir nossa bem-aventurança, encerram veladamente muitos Mistérios. Devem, portanto, ser explícitos, de modo que todos possam entender, na medida de sua capacidade.

a) Perpetuação da Bem-aventurança: Os fiéis serão pois, advertidos que as palavras "vida eterna" não designam uma simples perpetuação de vida, a qual se destinam também os demônios e os réprobos, mas antes uma perpetuação da bem-aventurança, que satisfaça as aspirações dos justos.
Neste sentido também também as entendia aquele doutor da lei no Evangelho, ao perguntar a Nosso Senhor e Salvador o que tinha que fazer para alcançar a vida eterna (Lc 18,18). Era como se indagasse: Que devo fazer para chegar ao lugar, onde gozarei perfeita felicidade? Nesta acepção é que as Sagradas Escrituras tomam estas palavras, como podemos verificá-lo em muitas passagens (Dan 1,1-4; Mt 19,29; 23,46; Rom 2,7; 6,22).

b) Não em bens materiais: A suprema bem-aventurança levou tal designação (Vida Eterna * Santo Agostinho de Civ. Dei XIX 11), principalmente para que ninguém a ficasse a consistir em bens materiais e transitórios, que não podem ser eternos.
Nem o simples temo "bem-aventurança" basta para exprimir a idéia desejada, já que não faltam homens que, na presença de falsa sabedoria, procure o sumo bem no gozo dos valores materiais.
Estes bens se consomem e envelhecem, ao passo que a felicidade se não circunscreve a nenhum limite de tempo. A bem dizer, as ninharias terrenas opõe-se diametralmente à verdadeira felicidade; de sorte que muito longe se afasta dela a pessoa que se deixa levar pelo amor e predileção do mundo. Está escrito: "Não ameis o mundo, nem as coisas há neste mundo. Se alguém ama o mundo, não tem em si o amor do Pai" (1Jo 2,15). E pouco adiante: "O mundo acaba, com suas concupiscências" (1Jo 2,17).
Com grande empenho devem os párocos incutir estas idéias e sentimentos no coração dos fiéis, para que se resolvam a desprezar os bens transitórios, e se convençam de que, neste mundo, onde somos forasteiros e não cidadãos (1 Pedr 2,11), não podemos alcançar nenhuma felicidade.

Corolário: Em sentido somos felizes na terra - Sem embargo, podemos considerar-nos felizes nesta terra, em razão de nossa esperança, se renunciarmos à impiedade e a concupiscência do mundo, e levarmos neste mundo uma vida sóbria, justa e piedosa, aguardando, em ditosa esperança, a chegada da glória do grande Deus e Salvador Nosso, Jesus Cristo (Tit 2,12ss).

Por compreenderem mal esta verdade, muitos que se tinham por sábios (Rom 1,22), julgaram que se devia procurar a felicidade nesta vida, (Sab 2,1 ss), mas ensandeceram e caíram nas maiores desgraças (Sab 5,6-15; 21).

c) Perpetuação que jamais pode perder-se: A expressão "vida eterna" faz-nos ainda entender que a felicidade, uma vez alcançada, nunca mais pode perder-se, como alguns falsamente pensavam.
A bem-aventurança é um acumulação de todos os bens sem nenhuma adição de males. Ora, para que satisfaça as aspirações do homem, deve por força consistir numa vida eterna . O bem-aventurado não pode ter senão o ardente desejo de fruir para sempre os bens adquiridos. Não fosse esta posse estável e segura, o bem-aventurado sentiria certamente a maior angustia com o receio de perdê-la (Santo gostinho Civ. Dei XII 20; XXII29,-30).

(Fonte: Catecismo da Igreja Católica - 1962 - Ed. Vozes)

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