Catecismo Romano: A vida eterna (Parte III)

Os Bens da Glória: Escreve santo Agostinho ser mais fácil, enumerar os males de que ficaremos livres, do que dos bens e alegrias que haveremos de gozar. Sem embargo, devem os párocos dar-se ao trabalho de explicar, com concisão e clareza, os pontos que possam incitar aos fiéis um ardente desejo de alcançarem aquela suprema felicidade.

...divisão: Para tal efeito, cumpre distinguir, com o fazem teólogos de grande autoridade, duas espécies de bens: uns que pertencem a própria natureza da bem-aventurança; e outros que são conseqüências da mesma, em linguagem teológica, aqueles se chamam bens essenciais; estes de bens acidentais.

a) bens essenciais: visão e posse de Deus: A bem-aventurança propriamente dita, que na expressão comum se chama "essencial", consiste em vermos a Deus, e gozarmos da beleza daquele, que é fonte e princípio de toda bondade e perfeição.

"Esta é a vida eterna", diz Cristo Nosso Senhor, "que te conheçam  ti, como Deus único e verdadeiro e a Jesus Cristo, que tu enviastes" (Jo 17,3).

Ao que parece, São João queria comentar estas palavras, quando disse: "Caríssimos, agora somos filhos de Deus, mas ainda não se manifestou o que seremos. No entanto, sabemos que, ao tornar-se manifesto, seremos semelhantes a Ele, portanto o veremos como Ele é". (1Jo 3,2)

Indica, pois, que a bem-aventurança consta destas duas realidades: veremos a Deus tal qual é em sua natureza e substância, e ficarmos quase que divinizados. Com efeito, conservando sua própria natureza, os que estão no gozo de Deus revestem  uma forma tão admirável, quase divina, que mais se parecem com deuses, do que com homens.

que nos diviniza - Assim acontece, porque todo objeto chega a nosso conhecimento, ou pelo que ele é em si mesmo, ou por meio de alguma imagem ou semelhança, nos faça chegar a seu perfeito conhecimento. Segue-se que ninguém pode completar  sua natureza e essência, a não ser que essas mesma essência divina se una conosco.

Esta é a significação das palavras de São Paulo: "Agora vemos  como que por um espelho, em alusões obscuras; mas depois face a face". (1 Cor 13,12). Santo Agostinho interpreta "alusões obscuras" como sendo imagens que nos fazem de algum modo conhecer a Deus.

É evidente que São Dionísio se exprimia no mesmo sentido, quando afirmou que, por nenhuma semelhança de coisas inferiores, podemos compreender as superiores.

Pela semelhança de coisa corpórea, não no é possível conhecer a essência e a substância da outra, que é incorpórea. Antes de tudo, a semelhança das coisas corpóreas são necessariamente, menos concretas e mais espirituais, do que as próprias coisas que representam. Facilmente o verificamos, no processo comum que nos leva ao conhecimento, no processo comum que nos leva ao conhecimento  de todas as coisas.

Ora, não existe, de nenhuma criatura, uma semelhança que seja tão pura e espiritual, como o é o próprio Deus. Por conseguinte da essência divina.

Além disso, a perfeição de toda criatura se contém dentro de certos limites. Deus, porém, é infinito; nenhuma imagem criada pode abranger sua imensidade. Logo, para conhecer a Deus em sua substância, resta um só meio, que é unir-se ela a nós, elevando misteriosamente, nossa potência intelectual, e tornando-nos assim capazes de contemplar a formosura de sua natureza.

(Fonte: Catecismo da Igreja Católica - 1962 - Ed. Vozes)

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