Catecismo Romano: A vida eterna (Parte IV)

Corolário: A "luz da glória" - A essa contemplação chegaremos pela "luz da glória", quando alumimiados por seu explendor "vimos em sua própria luz" (Sal 35, 10), a Deus que é luz verdadeira (Jo 1, 4-9) ; pois os bem aventurados contemplam eternamente a face de Deus (Mt 18,10; 1Cor 13, 12).

Por este dom que de todos é io maior e o mais precioso, tornando-se participantes da natureza divina (2Ped 1,4), e assim entram na posse da verdadeira e eterna felicidade.

Esta felicidade deve ser não só objeto de nossa fé, mas também da firme esperança de consegui-la pela misericórdia de Deus, conforme se definiu no símbolo dos Padres: "Aguardo a ressurreição dos mortos e a vida do século futuro"

Corolário: Uma comparação - Isso são prodígios divinos, não há termos que possam bem defini-los, nem raciocínio que nos faça bem compreendê-los.

Não obstante, nas coisas visíveis nos é dado observar uma pálida imagem dessa bem aventurança. Pois o ferro quando metido no fogo, compenetra-se no fogo, e sem mudar de substância, parece coisa diversa, o próprio fogo. Assim também todos os que entram na glória celestial, inflama-se de amor a Deus, e sem deixar de ser o que eram, transformam-se a ponto de haver, entre eles e os homens deste mundo, uma diferença muito maior, do que há entre o ferro candente e o não aquecido.

Para resumir em poucas palavras: a bem-aventurança suprema e absoluta, que dizemos essencial, consiste na posse de Deus. Com efeito o que poderia ainda faltar a plena felicidade de quem possui o Deus de suma bondade e perfeição?

b) Bens acidentais: Ao gozo essencial acrescem outros dons ainda, comum a todos os bem-aventurados; dons que, por serem mais acessíveis a razão humana, costumam causar-nos maior impressão (Santo Agostinho em a cidade de Deus XXII, 39). Desta espécie são os dons em que o Apóstolo pensava provavelmente, quando escreveu aos romanos: "Glória, honra e paz a todos os que praticam o bem" (Rom 2,10).

Os bem-aventurados não só gozarão de glória, que lhes advém da bem-aventurança essencial ou de seus efeitos imediatos, conforme acabamos de ver; mas também daquela glória que resulta do conhecimento, claro e positivo, que cada um terá da alta e singular dignidade dos outros bem-aventurados.

Estima de Deus... Qual será, porém, a grande honra que lhes faz Nosso Senhor, quando lhes chamar, já não servos (Jo 15,14), mas amigos (Lc 12,4), irmãos (Jo 20,17; Mt 12,49-50), e filhos de Deus? (Jo 1,12; Rom 8,14 ss; 1 Jo 3,1-2).

Por isso, Nosso Salvador há de dirigir-se a seus eleitos com as mais ternas e honrosas palavras: "Vinde, benditos de meus Pai, tomais posse do Reino que vos está preparado" (Mt 25,34). Motivo é para se exclamar: "Honrastes sobre maneira Vossos amigos, ó Deus!" (Sal 138,17).

Cristo Nosso Senhor há de exaltar-lhes os méritos, em presença do Pai celestial e de seus anjos (Mt 10,32).

Estima dos co-eleitos: Ademais, se a natureza implantou em todos os homens o desejo comum de serem estimados por pessoas de eminente sabedoria, porque as julgam testemunhas competentíssimas para lhes apreciar as qualidades: que é acréscimo de glória não imaginemos para os bem-aventurados, o tratarem-se uns aos outros com as mais subidas honras!

Acumulação de todas as alegrias... Seria interminável a faina de enumerar todos os gozos, que se acumulam na glória dos bem-aventurados. Não os podemos sequer representar em nossa imaginação.

Sem embargo, devem os fiéis persuadir-se de que tudo quanto nesta vida nos possa acontecer de agradável, ou que se possa desejar, tanto para o espírito, como para o corpo, todas estas coisas hão de superabundar na vida celestial dos bem-aventurados. No dizer do Apóstolo, isto se fará todavia num sentido muito superior ao que "os olhos viram, os ouvidos ouviram, o coração do homem jamais sentiu dentro de si" (1Cor 2,9; Is 64,4).

Banquete celestial... O corpo, que antes era grosseiro e compacto, despirá no Céu a mortalidade, tornar-se-á sutil e espiritual (1 Cor 15, 42-43), e já não precisará de nenhuma alimentação (Apoc 7,16). Na maior das delícias, a alma há de ser plenamente saciada com o eterno respaldo da glória, que o Senhor do Grande Banquete "servirá a todos, passando por entre eles" (Lc 12,37).

Veste Nupcial... Quem poderá então, desejar vestes preciosas ou adereços reais para o corpo, num lugar onde tais coisas não tem serventia, onde todos se cobrirão de imortalidade e de grande esplendor (1 Cor 15,34; Apoc 7,9), e como adorno cingirão o diadema da eterna glória? (1 Cor 9,25; 2 Tim 4,8)

Mansão Celeste... Mas, se a posse de uma casa ampla e confortável fz parte do bem-estar humano: onde se pode imaginar habitação mais vasta e mais grandiosa do que o próprio Céu, que resplandece inteiramente na claridade de Deus? (Apoc 21,11; 23-25).

Quando punha diante dos olhos a formosura desta morada, e seu coração ardia no desejo de entrar naquelas mansões de felicidade, o profeta exclamava: "Quão amáveis são Vossos Tarbenáculos, Senhor dos exércitos! Minha alma suspira e desfalece de saudade pelos Átrios do Senhor. Meu coração e meu corpo anseiam por chegar ao Deus vivo" (Sal 83,2-3).

Que tais sejam, igualmente, as disposições e a linguagem de todos os fiéis, deve ser o mais vivo desejos dos párocos, bem como o objeto de suas mais aturadas diligências.

Necessidade de nossa cooperação: 1. Obras de caridade; 2. Prática de Fé; 3. Uso dos Sacramentos: "Na casa de meu Pai, diz Nosso Senhor, existem muitas mansões" (Jo 14,2; Sal 61,12), onde se distribuem prêmios maiores ou menores, conforme tiver cada um merecido. "Quem pouco semeia, pouco colherá. Quem semeia com largueza colherá com abundância" (2 Cor 9,6).

Por conseguinte, o dever dos párocos não é só de entuisiasmar os fiéis por esta bem-aventurança, senão também lembrar-lhes, repetidas vezes, que o meio seguro de consegui-la é praticarem todos os ofícios de caridade para com o próximo; que neste intento, devem firmar-se na fé e na caridade, perseverar na oração e no uso salutar dos sacramentos.

Assim, pela misericórdia de Deus, que preparou aquela gloriosa mansão aos que o amam,  há de se  cumprir-se um dia a promessa do vidente: "Meu povo estabelecer-se-á no encanto da paz, em tenda seguras, no repouso da fartura" (Is 32,18).

(Fonte: Catecismo da Igreja Católica - 1962 - Ed. Vozes)

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