Teologia Ascética e Mística: Da Parte da Santíssima Virgem, dos santos e dos anjos na vida cristã (Parte VII)
Ato de consagração total a Maria
(Fonte: Compêndio de Teologia e Ascética e Mística - AD. Tanquerey - 1961)
Natureza e extensão deste ato. É um ato de devoção que
contém todos os demais. Tal qual o expõe S. Grignion de Montfort consiste em se
dar inteiramente a Jesus por Maria, e compreende dois elementos: um ato de
consagração, que se renova de tempos a tempos, e um estado habitual que nos faz
viver e operar sob a dependência de Maria. O ato de consagração, diz S.
Grignion, «consiste em, se dar um todo inteiramente, em qualidade de escravo, a
Maria e a Jesus por Ela», Ninguém se escandalize do termo escravo. ao qual se
deve tirar todo o sentido pejorativo, isto é, toda a idéia de coação; este ato,
longe de implicar violência, é a expressão do amor mais puro. Não se conserve,
pois, senão o elemento positivo, tal qual o explica o Bem-aventurado: Um
simples servo ou criado recebe soldada, fica livre de deixar o patrão e não dá
mais que o seu trabalho; não dá a sua pessoa, os seus direitos pessoais, os
seus bens; um escravo consente livremente em trabalhar sem soldada; confiando
no senhor, que lhe assegura sustento e abrigo, dá-se para sempre, com todos os
seus recursos, a sua pessoa e os seus direitos, para viver em completa
dependência dele.
Para fazer aplicação às coisas espirituais, o perfeito servo
de Maria, dá-lhe, e por Ela, a Jesus:
a) O corpo, com todos os seus sentidos, não conservando
senão o uso, .e obrigando-se a não se servir deles senão conforme o beneplácito
da SSma. Virgem ou de seu Filho: aceita de antemão todas as disposições
providenciais relativas à saúde, enfermidade, vida e morte.
b) Todos os bens de fortuna, não usando deles senão sob a
dependência de Maria, para sua glória e honra de Deus.
c) A alma com todas as suas faculdades, consagrando-as ao
serviço de Deus e do próximo, sob a direção de Maria, e renunciando a tudo o
que pode pôr em risco a nossa salvação e santificação.
d) Todos os bens interiores e espirituais, merecimentos,
satisfações e o valor imperatório das boas obras, na medida em que estes bens
são alienáveis. Expliquemos este último ponto:
1) Os nossos méritos propriamente ditos (de condigno) pelos
quais merecemos para nós mesmos aumento de graça e de glória; são inalienáveis;
se, pois, os damos a Maria, é para que Ela os conserve e aumente, não para que
Ela os aplique a outros. Mas os méritos de simples conveniência (de côngruo);
corno podem ser oferecidos por outrem, deixamos que Maria
disponha deles livremente.
2) O valor satisfatório dos, nossos ato, incluindo as indulgência,
é, alienável e deixamos a aplicação deles à Santíssima Virgem.
3) O valor impetratório, isto é, as nossas orações e as boas
obras enquanto gozam deste mesmo valor, podem ser-lhe entregues e de fato o são
por este ato de consagração.
Uma vez feito este ato, não podemos dispor mais destes bens
sem permissão da Santíssima Virgem: mas podemos e por vezes devemos rogar-lhe
se digne, conforme o seu beneplácito, dispor deles em favor das pessoas a que
nos ligam obrigações particulares. O meio de tudo conciliar e oferecer-lhe ao
mesmo tempo, não somente a nossa pessoa e os nossos bens, mas todas as pessoas
que nos são caras: «Tuus totus sum, omnie
mea tua sunt, et omnes mei tui sunt»: deste modo a SS. Virgem
servir-se-à dos nossos bens e sobretudo dos seus tesouros e dos de seu Filho,
para socorrer essas pessoas que, assim, longe de perderem, só ganharão com a
nossa consagração à Santíssima Virgem.
(Fonte: Compêndio de Teologia e Ascética e Mística - AD. Tanquerey - 1961)
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