Sexta-feira da Cruz de Nosso Senhor: Da esperança que devemos ter

3. “Não te esqueças da graça que te fez teu fiador” (Eclo 29,20). Ah, meu Jesus, eu era incapaz, depois de meus pecados, de satisfazer a divina justiça, mas vós quisestes com a vossa morte satisfazer por mim. Oh! quão grande seria a minha ingratidão se eu me esquecesse dessa tão grande misericórdia. Não, meu Redentor, não quero esquecer-me mais; quero agradecer-vos sempre e mostrar-me grato, amando-vos e fazendo quanto puder para vos contentar. Socorrei-me com as graças que me merecestes com tantos sofrimentos. Amovos, ó meu amor, minha esperança. “Minha pomba nas fendas do rochedo”
“Minha pomba nas fendas do rochedo” (Ct 2,13). Oh! que refúgio seguro encontraremos sempre nessas fendas sagradas da pedra, que não as chagas de Jesus Cristo. “As fendas da pedra são as chagas do Redentor, diz S. Pedro Damião; nelas a alma fiel põe a sua esperança”(De S. Mat. serm. 3). Ah, aí nos veremos livres da desconfiança causada pela vista de nossos pecados, aí encontraremos as armas para nos defendermos quando formos tentados a pecar novamente.“Confiai, eu venci o mundo” (Jo 16,33). Se não tendes forças bastantes, exorta-nos o Salvador, para resistir aos assaltos que o mundo vos oferece com seus prazeres, confiai em mim, porque eu o venci e agora vós também o vencereis. Pedi para que meu eterno Paivos conceda, por meus merecimentos, a força e eu vos prometo que tudo que lhe perdirdes em meu nome, ele vos dará (Jo 16,23).

E em outro lugar nos reafirma a promessa, dizendo que qualquer graça que pedirmos a Deus por seu amor, ele mesmo, que é uma só coisa com o Pai, no-la dará: “Tudo que pedirdes a meu pai em meu nome, eu o farei, para que o Pai seja glorificado no Filho” (Jo 14,13).
Ah! eterno Pai, confiado nos merecimentos e nessas promessas de Jesus Cristo, não vos peço bens da terra, mas somente a vossa graça. É verdade que eu, pelas injúrias que vos fiz, não mereceria nem o perdão nem graças. Mas se eu não o mereço, mereceu-mas vosso Filho, oferecendo seu sangue e sua vida por mim. Perdoai-me, pois, por amor desse vosso Filho. Dai-me uma grande dor de meus pecados e um grande amor a vós. Alumiai-me para que conheça quanto é amável a vossa bondade e quão grande é o amor que me tendes tido desde toda a eternidade. Fazei-me compreender a vossa vontade e dai-me a força para executá-la perfeitamente. Senhor, eu vos amo, e quero fazer tudo o que de mim exigis.

4. Que grande esperança de salvação nos dá a morte de Jesus Cristo. “Quem é que nos há de condenar? Jesus Cristo, que morreu por nós e que também intercede por nós” (Rm 8,34). Quem será que nos condenará, pergunta o Apóstolo: é aquele mesmo Redentor que, para não nos condenar à morte eterna, condenou-se a si mesmo a morrer cruelmente numa cruz. Isso anima S. Tomás de Vilanova a dizer: “Que temes, ó pecador, se pretendes deixar o pecado? Como há de te condenar aquele Senhor que morrer para te não condenar? Como te há de expulsar, quando voltares a seus pés, aquele que desceu do céu a tua procura, quando fugias dele?” Mas ainda maior coragem nos incute o Salvador mesmo, dizendo por Isaías: “Eis que eu te gravei nas minhas mãos; tuas muralhas estão sempre diante de meus olhos” (Is 49,16).

Não percas a confiança, ovelha minha, vê quanto me custaste, eu tenho-te escrita nas minhas mãos, nestas chagas que eu sofri por ti: elas sempre me recordam que devo ajudar-te e defender-te contra teus inimigos: ama-me e confia. Sim, meu Jesus, eu vos amo e em vós confio. O resgatar-me vos custou tanto, mas o salvar-me nada vos custa. A vossa vontade é que todos se salvem e que ninguém se perca. Se meu pecados me espantam, anima-me a vossa bondade que mais deseja fazer-me bem que eu recebê-lo. Ah, meu amado Redentor, vos direi com Jó. “Mesmo que ele me mate esperarei nele... E ele será meu salvador” (Jó 13,15). Ainda que me expulseis de vossa face, ó meu amor, não deixarei
de esperar em vós, que sois meu Salvador. Essas vossas chagas e esse vosso sangue me dão suficiente confiança para esperar todos os bens de vós. Eu vos amo, caro Jesus, eu vos amo e em vós espero.


A glorioso S. Bernardo, achando-se enfermo, viu-se uma vez transportado diante do tribunal de Deus, onde o demônio o acusava de seus pecados e afirmava que ele não merecia o paraíso. O santo respondeu: É verdade que eu não mereço o paraíso, mas Jesus tem duplo direito a esse reino: um por ser Filho natural de Deus, outro por havê-lo conquistado com sua morte; ele se contenta com o primeiro e cede-me o segundo, por isso eu peço e espero o paraíso. O mesmo podemos nós dizer, pois S. Paulo escreve que Jesus Cristo quis morrer consumido de dores para obter o paraíso a todos os pecadores arrependidos e resolvidos a emendar-se. “E, sacrificado, foi feito o autor da salvação eterna para todos os que lhe obedecem” (Hb 5,9). E o Apóstolo ajunta: “Corramos ao combate que nos está proposto, olhando para o autor e consumador da fé, Jesus, que, sendo-lhe proposto o gozo, suportou a cruz,  desprezando a ignomínia” (Hb 12,1-2). Combatamos com coragem os nossos inimigos, olhando para Jesus Cristo que, com os merecimentos de sua paixão, nos oferece a vitória e a coroa.

V. Senhor, não nos trateis segundo os nossos pecados.
R. Nem nos castigueis segundo as nossas iniquidades.

Para um Bom Católico a sexta-feira é dia de Penitência e dia de meditar sobre a paixão do Senhor!

Para os mundanos dia de ignorar o Senhor em sua Cruz e agonia.
Fonte: A Paixão de Nosso Senhor Jesus Cristo - Piedosas e edificantes meditações - sobre os sofrimentos de Jesus - Por Sto. Afonso Maria de Ligõrio - Traduzidas pelo Pe. José Lopes Ferreira, C.Ss.R. - VOLUME I

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