Liturgia Católica II: A reforma litúrgica (Parte II)


O Papa São Gregório elaborou, baseando-se em antigos livros litúrgicos, um novo Sacramentário para o ano. Além disso, em outro livro, pôs em ordem o canto litúrgico que se conhece por seu nome, “canto gregoriano”, ainda que as melodias que conhecemos tenham sua origem cem anos depois do mesmo São Gregório.

A liturgia dâmaso-gregoriana permaneceu em vigor na Igreja Católica Romana até a reforma litúrgica atual. É contrário aos fatos dizer, como freqüentemente se diz hoje, que se aboliu o “missal de São Pio V”. As modificações introduzidas no missal romano durante quase 1400 anos não tocaram o rito propriamente dito. Ao contrário do que estamos vivendo hoje, somente se tratou de um enriquecimento nas novas festas, em formulários de missas e em certas orações.

Como conseqüência dos acontecimentos políticos do séc. VIII, que tiveram como conseqüência unir estreitamente os reis francos com o Papa, a liturgia de São Gregório, que estava adaptada à situação romana, se converteu em obrigatória para grandes territórios do ocidente. O rito galicano foi suprimido. Somente os ritos autônomos da Espanha, sob domínio islâmico, o de certas regiões da Itália setentrional (Milão, Aquiléia), ou do Ducado de Benevent, subsistiram ainda durante algum tempo, e em Milão até nossos dias. A adoção da liturgia romana nos países francos ocasionou problemas, derivados da adaptação deste rito “estrangeiro” às próprias condições das diversas cidades e povos. Esta adaptação jamais foi sido completamente conseguida. Há algo de eminentemente trágico nisso e constitui uma das raízes da atual desolação litúrgica.

A segunda importante raiz deve-se buscar no distanciamento da Igreja Romana do Ocidente dasIgrejas do Oriente, que começou entre os séculos VIII e IX, e finalmente provocou a ruptura oficial entreRoma e Bizâncio em 1054. Esta ruptura, nascida de diferenças de ordem dogmática, foi tanto mais dolorosa
quanto o fato de que, por causa dela, um componente muito importante do culto divino se enfraqueceu entre nós: o sentido litúrgico da Igreja Primitiva.
Segundo este sentido, a liturgia é sobretudo um serviço sagrado realizado diante de Deus; o que também quer dizer, como escreveu o Papa São Gregório em seus “Diálogos” (IV, 60), que “à hora do sacrifício, o céu se abre à voz do sacerdote; que neste mistério de Jesus Cristo estão presentes os coros dos
anjos, o que está no alto se junta com o que está embaixo; que o céu e a terra se unem; que o visível e o invisível se fundem”.

A idéia desta “liturgia cósmica”, que sempre permaneceu viva na Igreja do Oriente, exige uma celebração solene e exatamente regulamentada da liturgia. Exclui todo minimalismo, como o que se estendeu cada vez mais no Ocidente a partir da idade média, quando normalmente se limitava a celebração dos santos mistérios ao indispensável para a validez de sua realização ou ao mínimo do que estava prescrito. Desde então os ritos foram “executados” e poucas vezes verdadeiramente “celebrados”. Ao contrário, na Igreja do Oriente, a liturgia permaneceu sempre como o jogo de um mistério, no qual, jogo e realidade se mesclam de uma maneira única. Refere-se a este aspecto o que em particular diz da missa o dramaturgo Hugo Bale, bom conhecedor da Igreja grega: “Realmente para o católico ali não pode haver teatro. O espetáculo, que o possui e o cativa todas as manhã, é a santa missa”.

Fonte: A Reforma Litúrgica Romana - Monsenhor Klaus Gamber - Fundador do Instituto - Tradução por Luís Augusto Rodrigues Domingues (Teresina, PI - 2009) - Litúrgico de Ratisbona - Revisão por Edilberto Alves da Silva

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