Preparação para a morte: Da oração

Santa Catarina de Siena em oração


Petite et dabitur vobis... omnis enim qui petit, accipit. Pedi e dar-se-vos-á... porque todo aquele que pede receberá (Lc 9,9- 10)

PONTO I

Não é só num, mas em muitos lugares do Antigo e Novo Testamento que Deus promete atender aos que se recomendam a ele. “Clama a mim e ouvir-te-ei (Jr 33,3). Invoca-me... e livrar-te-ei (Sl 49,15). Se pedirdes alguma coisa em meu nome, vô-la será concedida (Jo 14,4).

Pedireis o que quiserdes e se vos outorgará (Jo 15,7). E assim outros textos semelhantes. Verdade é que a oração é uma, diz Teodoreto; mas ela nos pode alcançar tudo; pois, segundo afirma São Bernardo, o Senhor nos dá, ou a graça que pedirmos, ou outra que julga nos ser mais útil. Por essa razão, o Profeta nos incita a rezar, afiançando-nos que Deus é todo misericórdia para aqueles que o invocam e recorrem a ele (Sl 85,5). Com mais eficácia, nos exorta o após-tolo São Tiago, dizendo que, quando rogamos a Deus, este nos concede mais do que se lhe pede, sem vingar-se das ofensas que lhe causamos (Tg 1,5). Ao ouvir nossas orações, parece esquecer nossas culpas. 

Diz São João Clímaco que a oração comove de algum modo a Deus e o obriga a conceder-nos o que lhe pedimos. É violência — escreve Tertuliano — mas violência que agrada ao Senhor e que a deseja de nós, pois, segundo diz Santo Agostinho, maiores desejos tem Deus de prodigalizar-nos os seus bens do que nós de recebê-los, porque Deus, por sua natureza, é a bondade infinita, conforme observa São Leão e se compraz sempre em comunicar-nos os seus bens. Disse Santa Maria Madalena de Pazzi que Deus contrai, de certo modo, obrigações com a alma que o implora, porque ela mesma oferece oportunidade ao Senhor de satisfazer o seu desejo de conceder-nos suas graças e seus favores. David afirmou que esta bondade do Senhor em ouvir-nos, quando lhe dirigimos as nossas súplicas, demonstrava-lhe que ele era o verdadeiro Deus (Sl 55,10). Ad-verte São Bernardo, que muitos se queixam de que Deus não lhes é propício; com maior razão se lamenta o Senhor de que muitos o ofendem e deixam de recorrer a ele para lhe pedir graças. Nosso Redentor disse, por isso, a seus discípulos: “Até agora nada pedistes em meu nome. Pedi e recebereis, a fim de que vosso gozo seja completo” (Jo 16,24); ou seja: “não vos queixeis de mim, se não tendes sido completamente felizes; queixai-vos de vós mesmos que não me pedistes as graças que vos tenho preparado. Pedi, pois, e sereis satisfeitos”.

Os antigos monges afirmaram que não há exercício mais proveitoso para alcançar a salvação do que a oração contínua, dizendo: Auxiliai-me, Senhor! Deus, in adjutorium meum intende. O venerável Padre Segneri, referindo-se a si mesmo, disse que costumava, em suas meditações, entregar-se largamente a afetos piedosos, mas que, depois, persuadido da grande eficácia da oração, procurava dedicar a ela a maior parte do tempo... Façamos nós também o mesmo, porque Deus nos ama ternamente, deseja a nossa salvação e se mostra solícito em ouvir as nossas súplicas. Os príncipes do mundo só a poucos dão audiência, disse São João Crisóstomo; mas Deus a concede a todos os que a pedem.

AFETOS E SÚPLICAS

Adoro-vos, Deus Eterno, e agradeço-vos todos os benefícios que me tendes concedido, especialmente criando-me, resgatando-me com o sangue de Jesus Cristo, tornando-me filho da sua santa Igreja, esperando o meu arrependimento quando me achava no pecado e perdoando-me tantas vezes... Ah, meu Deus, nunca teria caído em pecado, se a vós tivesse recorrido nas tentações... Agradeço-vos também a luz que me fez reconhecer que toda a minha felicidade se funda na oração, na súplica dos dons de que necessitamos. Peço-vos, pois, em nome de Jesus Cristo, que me deis grande dor de meus pecados, a perseverança na vossa graça, uma morte boa e piedosa e, enfim, a glória eterna; sobretudo vos peço o sumo dom do vosso amor e a perfeita conformidade com a vossa vontade santíssima. Bem sei que não mereço esses favores, mas os oferecestes a quem os pedisse em nome de Jesus Cristo. E eu, pelos merecimentos de Jesus Cristo, vo-los peço e espero obtê-los...

Ó Maria, as vossas súplicas alcançam quando pedem. Orai por mim.


V/: Requiem aeternam dona eis, Domine, et lux perpetua luceat eis. Requiescant in pace. R:/ Amém.


Fonte: Preparação para a Morte - Santo Afonso Maria de Ligório - Considerações sobre as verdades eternas - Tradução de Celso de Alencar - Versão PDF de FL. Castro - 2004 

Comentários

POSTAGENS MAIS ANTIGAS