Liturgia Católica: O PAPA TEM O PODER DE MUDAR O RITO? (Parte I)

Papa Paulo VI
A resposta a esta pergunta, seguindo as reflexões precedentes, parece de uma urgente necessidade. Mas, antes, convém esclarecer o que entendemos pela palavra “Rito” em tudo o que expomos a seguir. Podemos defini-lo como as formas reguladoras do culto que, remontando a Cristo, nasceram, uma a uma, a partir do costume geral e sancionadas depois pela autoridade eclesiástica. Desta definição se deduzem as seguintes conclusões:

1. Se o rito nasceu do costume geral – e sobre isto não há dúvida para o conhecedor da história da liturgia –, não pode ser recriado em sua totalidade. Inclusive em seu princípio, as formas da liturgia cristã não constituíram nada fundamentalmente novo.

Da mesma maneira que a Igreja primitiva se separou progressivamente da Sinagoga, assim as formas litúrgicas das jovens comunidades cristãs também se separaram progressivamente do ritual judaico.

Isto é válido tanto para a celebração da Eucaristia, que está em íntima relação com as refeições rituais dos Judeus – por exemplo a refeição do sábado ou a Pascal – como para as partes mais antigas do ofício das horas, que se estabeleceram a partir da liturgia da oração sinagogal.

A ruptura com a Sinagoga deve-se à fé no Ressuscitado; mas no referente aos ritos, quase não havia diferença com os Judeus. Assim, depois do dia de Pentecostes, os novos batizados seguiam tomando parte no culto do Templo (cf. At 2,46); o mesmo São Paulo renovou com outras quatro pessoas o voto judeu dos Nazarenos e fez que se oferecesse o sacrifício prescrito ante o Templo de Jerusalém (cf. At 21, 23-26).

O que verdadeiramente havia de novo no culto cristão, o memorial do Senhor, em cumprimento do que havia ocorrido durante a Ceia, estava a princípio organicamente ligado ao rito judeu da fração do pão. Isto era tanto mais realizável pelo fato de o mesmo Jesus, em sua ceia de despedida, véspera de sua Paixão, ter se conformado ao rito dos Judeus. 

O que dissemos da Igreja paleocristã vale também para a Igreja Primitiva. É certo que durante os três ou quatro primeiros séculos, não se empregavam os mesmos textos litúrgicos, todavia o culto cristão se desenvolvia em todas as partes de uma forma mais ou menos igual. As tensões chegaram quando no Século II, em muitas partes, sobretudo no Ocidente (em Roma) se mudou a data da Páscoa, que não se voltou a celebrar mais no mesmo dia dos Judeus. Quase se chegou a um cisma com a Igreja da Ásia Menor. 

O Papa Aniceto e o bispo Policarpo de Esmirna acabaram se colocando de acordo. Cada Igreja tinha direito a guardar seus costumes hereditários, tanto mais quanto as duas podiam apelar para a tradição.

Fonte: A Reforma Litúrgica Romana - Monsenhor Klaus Gamber - Fundador do Instituto - Tradução por Luís Augusto Rodrigues Domingues (Teresina, PI - 2009) - Litúrgico de Ratisbona - Revisão por Edilberto Alves da Silva

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