Teologia Ascética e Mística: Condições Tiradas do objeto ou ato em si mesmo

Não são unicamente as disposições do sujeito que aumentam o mérito, senão todas as circunstâncias que contribuem para tomar a ação mais perfeita. Quatro são as principais:

a) A excelência do objeto ou o ato que se pratica. Há uma hierarquia nas virtudes: assim as virtudes teologais são mais perfeitas que as morais, e por este motivo os atos de fé, de esperança, e sobretudo de caridade são meritórios que os atos de prudência, justiça, temperança, etc. Estes últimos, porém, como já dissemos, podem, pela intenção, converter-se em atos de amor e particular assim do seu valor especial. Do mesmo modo os atos de religião, que tendem diretamente à glória de Deus, são mais perfeitos que os que tem por fim direto a nossa santificação.

b) Para certas ações, a quantidade pode influir sobre o mérito; assim, em igualdade de circunstâncias, uma dádiva generosa de mil francos será mais meritório que dez centímetro.  Mas trata-se de quantidade relativa; o óbulo da viúva, que se priva duma parte do necessário, moralmente vale mais que a rica oferta daquele que se despoja apenas duma porção do supérfluo. 

c) A duração toma também a ação mais meritória: orar, sofrer durante uma hora vale mais que fazê-lo durante cinco minutos, pois que este prolongamento exige mais amor.

d) A dificuldade do ato, não em si mesmo, senão enquanto exige mais amor de Deus, esforço mais energético e constante, e não provém, duma imperfeição atual da vontade, também, acrescenta o mérito. Assim resistir a uma tentação violenta é mais meritório que resistir uma tentação ligeira; praticar a doçura, quem tem um temperamento inclinado a cólera, e recebe frequentes provocações dos que rodeiam, é mais difícil e meritório que proceder assim, quem possui um natural meigo e vive no meio de pessoas benévolas.

Daqui, porém, não se deveria concluir que a facilidade; adquirida por numerosos atos de virtude, diminui necessariamente o mérito; essa facilidade, quando um se aproveita dela para continuar e até mesmo aumentar o esforço sobrenatural, favorece a intensidade ou o fervor do ato, e por este lado aumenta o mérito, como acima explicamos. Assim como um bom operário, aperfeiçoando-se no seu oficio, evita toda perda de tempo, matéria e força, e tira mais proveito com menos trabalho, assim um cristão, que sabe servir-se melhor  melhor dos instrumentos de santificação, evita perda de tempo, muitos esforços inúteis e com menos custos ganha mais merecimentos. Os santos, que pela prática das virtudes, fazem mais facilmente que outros os atos de humildade, obediência, religião, nem por isso tem menos merecimentos, pois que praticam mais fácil e frequentemente o amor de Deus; e depois continuam a fazer esforços e sacrifícios, nas circunstâncias em que estes são necessários. Em suma, a dificuldade faz crescer o mérito, não enquanto é um obstáculo que se tenha que vencer, mas enquanto suscita, mais entusiasmo e amor. Acrescentemos apenas que estas condições objetivas não influem realmente sobre o mérito senão enquanto são aceitas de livre vontade e reagem assim sobre a perfeição das nossas disposições interiores.

(Fonte: Compêndio de Teologia e Ascética e Mística - AD. Tanquerey - 1961) 

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