Catecismo Romano: Efeitos do Batismo

Efeitos do Batismo

Destes efeitos, é preciso falar muitas vezes, para que os fiéis reconheçam melhor a sua eminente dignidade, e dela não deixem jamais esbulhar pelas tricas e violências do inimigo. 

A isenção dos males:

I. Perdão de todos os pecados: Em primeiro lugar, importa dizer que, pela admirável virtude deste sacramento, é remitido o pecado, quer original que herdamos de nossos pais, quer os pecados pessoais, ainda que eles sejam de uma malícia indescritível. 

Muito tempo antes, Deus havia falado pela boca do profeta Ezequiel, que assim vaticinou: "Derramarei sobre vós uma água pura, e sereis purificados de todas as vossas contaminações" (Ezequiel 36,25).

E São Paulo, depois de enumerar aos coríntios uma longa série de pecados, acrescentou: "Na verdade, assim fostes antigamente, mas agora estais purificados, agora estais santificados" (183).

Conta também, com evidência, que a Igreja sempre ensinou esta doutrina. No seu livro sobre o batismo das crianças, Santo Agostinho se exprime nestes termos: "Pela geração da carne, o homem só contrai o pecado original; mas, pela regeneração do espírito, consegue não só a remissão do pecado original, mas até dos pecados voluntários" (Aug. De peccat. merit. et remiss. 1 16 Doney cita 1 15). E São Jerônimo escreve a Oceano: "No batismo, são perdoados todos os pecados" (Hieron. epist. ad Oceanum).

Para desfazer de vez todas as dúvidas, o Concílio de Trento confirmou as definições de outros concílios, e lançou anátema contra quem ousasse ter outra opinião, e afirmasse que, apesar de perdoados no Batismo, os pecados não seriam inteiramente extirpados ou desarraigados, mas só como que raspados exteriormente, de sorte que suas raízes continuariam ainda cravadas na alma. 

Pois, para repetirmos as palavras habituais do Concílio, "Deus nada aborrece naqueles que foram regenerados, porque não existe nenhum motivo de condenação (Rom 8, 1) naqueles que, em virtude do batismo, foram verdadeiramente sepultados com Cristo para a morte (Rom 8, 6); naqueles que não vivem segundo a carne (Rom 8, 5-13), e se desapegam do homem velho, para se vestirem do homem novo, criado a imagem de Deus (Efe 4, 22; Col 3, 9-10), e dessa maneira se tornam inocentes, imaculados, puros, irrepreensíveis, e agradáveis a Deus" (Efe 1, 22).

Embora remanesça a concupiscência: Conforme o que o Concílio definiu no mesmo decreto, verdade é que nas pessoas batizadas remanesce a concupiscência ou aguilhão do pecado.

Essa, porém, não é pecado no rigor da palavra. Como Santo Agostinho também diz, "a culpa [resultante] da concupiscência é perdoada as crianças, mediante o batismo, mas fica-lhes a própria concupiscência, para as exercer na luta". (Aug. Retract. 1 15 2) Noutro lugar, reafirma ele a mesma verdade: "No batismo, destrói-se a culpa [provinda] da concupiscência, mas persiste a fragilidade" (Aug. Retract. 1 15 2). 

Com efeito, a concupiscência vem do pecado, mas em si não é outra coisa senão um apetite da alma que, por sua natureza, repugna a razão. Porém seus movimentos não envolvem nenhuma malícia de pecado, contanto que a vontade não consista neles, nem se deixe arrastar por qualquer negligência.

Quando São Paulo declarou: "Eu não conheceria a concupiscência, se a lei não dissera: Não cobiçarás!"(Rom 7, 7) - Queria ele referi-se à aberração da vontade, e não da própria concupiscência.

Mas os pecados totalmente extintos: São Gregório sustenta a mesma opinião, porquanto escreve: "Dizem alguns que, no Batismo, os pecados são remitidos só pela rama. Haverá, no entanto, opinião que exprima maior descrença? Na realidade, pelo sacramento da fé fica a alma radicalmente livre de pecados, para só viver unida a Deus"(Greg. epist. lib. XI 45). Em conformação desta verdade, alega as palavras de Nosso Salvador, que diz no Evangelho de São João: "Quem tomou banho, não precisa senão lavar os pés, e todo ele estará limpo" (Jo 13, 10).

Quem quiser contemplar uma imagem concreta desta realidade, ponha a se refletir na história de Naamã, o Sírio Leproso. Depois de se ter banhado sete vezes nas águas do Jordão, de tal modo ficou limpo da Lepra, que sua pele, como diz a escritura, se assemelhava a pele de uma criancinha (4 Reg 5, 1ss).

Daí nasce que o o efeito propriamente dito do batismo é a remissão total dos pecados, quer do original, quer dos pessoais, contraídos por malícia nossa. Para esse fim é que Nosso Senhor e Salvador instituiu o Batismo, conforme declarou o príncipe dos apóstolos, com toda evidência: "Convertei-vos, e faça-se cada um de vó batizar em nome de Jesus Cristo, para remissão dos pecados" (Atos 2, 38). E aqui não faremos menção de outros testemunhos.    

(Fonte: Catecismo da Igreja Católica - 1962 - Ed. Vozes)

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