Catecismo Romano: Efeitos do Batismo II


Remissão de todas as penas dos pecados pessoais: No Batismo, Deus não só remite os pecados, mas por um efeito de sua bondade perdoa também todas as penas de nossos pecados e iniquidades.

Ainda que todos os sacramentos possuam efeito comum de comunicar virtude da Paixão de Cristo Nosso Senhor, contudo só do Batismo dizia o Apóstolo que, por meio dele, morremos e somo sepultados em Cristo (Romanos 6, 3).

Por tal motivo, a Santa Igreja sempre julgou que seria grave profanação do Sacramento impor aos batizados aquelas obrigações de piedade, que os Santos Padres de ordinário chamam obras de satisfação.

No entanto, não contradiz a esta doutrina  a velha praxe, pela qual a Igreja impunha antigamente quarenta dias de jejum consecutivos aos judeus que se batizavam. Este preceito não tinha um caráter de satisfação. Era um meio de induzir os neófitos a intensificarem  por algum tempo os seus jejuns e orações, em sinal  de respeito à dignidade do sacramento.

Corolário - As penas civis do pecado: Apesar da absoluta certeza de serem perdoadas pelo Batismo as penas dos pecados, ninguém fica livre das penalidades do foro cível, que tenha porventura incorrido, em consequência de algum delito grave. Quem for réu de morte, não escapa pelo batismo à pena capital prevista pela legislação civil. Sem embargo, digna seria dos maiores encômios a religiosa clemência, com que os chefes das nações perdoassem aos culpados também essa pena [temporal], para exaltarem a glória de Deus em seus sacramentos.

Remissão das penas do pecado original após a morte: Outro efeito do Batismo é apagar todas as penas que decorrem do pecado original, depois desta vida terrena. Mas a possibilidade de conseguí-lo nos advém dos merecimentos da morte de Nosso Senhor; pois, como já ficou dito, o Batismo nos faz morrer com Ele. "Certamente, diz o Apóstolo, se com ele estivermos unidos pela participação de sua morte, também estaremos pela participação de sua ressurreição" (Romanos 6, 5).

Mas não dos sofrimentos desta vida: Poderia alguém indagar porque a recepção do Batismo não nos livra dos sofrimentos, já nesta existência mortal; por que também a sagrada ablução não nos restitui, de sua virtude, aquele grau de vida perfeita em que, antes de pecar, se achava Adão, o primeiro pai do gênero humano? Responder-se-á que assim não acontece por duas razões principais.

a) porque Cristo os quis tolerar.... A primeira é a seguinte. Pelo Batismo, fomos unidos ao corpo de Cristo, e tornamo-nos membros seus. Como tais, não nos competia receber honras maiores do que as outorgadas por Ele, que é nossa cabeça. Ora, apesar de possuir, desde o primeiro instante de sua conceição, a plenitude da graça e da verdade (João 1, 14), Cristo Nosso Senhor havia assumido a fragilidade da natureza humana, e dela não se despojou, antes que sofresse os tormentos da Paixão e a própria Morte; [só] depois é que ressurgiu para uma glória de uma vida imortal.  Não é, pois, de admirar que os fiéis, não obstante a justificação da fé pela graça do Batismo, continuem num corpo fraco e mortal; pois terão de sofrer muitos trabalhos por amor a Cristo, de passar pela morte e de ressurgir para uma vida nova, antes de serem dignos, afinal, de desfrutar com Cristo a eterna bem-aventurança.

b) porque nos dão ocasião de virtude... A segunda razão por que, depois do Batismo, remanesce em nós a fraqueza física, a doença, o sentido da dor, o ímpeto da concupiscência, é para que nos sirvam de campo e sementeira de virtudes, donde poderemos colher maiores frutos de glória e prêmios mais abundantes.

Realmente, levando com paciência os sofrimentos da vida; submetendo, com o auxílio de Deus, nossos baixos instintos ao império da razão, podemos seguramente confiar que, se houvermo combatido o bom combate, consumado a carreira, e conservado a fé, como fez o apóstolo: Nosso Senhor, que é juiz justo, dar-nos-á naquele dia da retribuição a coroa da justiça, que também, nos está preparada (2 Timóteo 4, 7 ss).

como acontece aos judeus...    Evidentemente, não foi de outra forma que Nosso Senhor se houve com os filhos de Israel. Salvou-os da servidão dos egípcios, submergindo o Faraó com os seus exércitos nas ondas do mar. Entanto, não os introduziu logo na venturosa terra da promissão, mas sujeitou-os primeiro a muitas e variadas provações. Depois, quando os investiu na posse da terra prometida, expulsou de suas sedes uma parte dos antigos habitantes, mas deixou algumas tribos que os israelitas não puderam exterminar, para que ao povo de Deus nunca faltasse ocasião de adestrar sua força e valor na guerra. 

c) porque excluem nos neófilos motivos inconfessáveis: Acresce ainda outra razão. Se alguém dos dons celestiais com o que o batismo exorna a alma, fosse também conferidos benefícios para o corpo, seria para recear que muitos procurassem o batismo, movidos antes pelas vantagens da vida presente, do que pela aspiração da glória futura. De feito, o cristão não deve ter na mente os bens falsos e incertos que aparecem aos olhos, mas os eternos e verdadeiros, que não podem ver (2 Cor 4, 18).

d) porque o cristão é consolado nos sofrimentos: Mas, apesar das misérias, que a infestam, nossa vida na terra não deixa de ter as suas alegrias e doçuras. Para nós que, pelo Batismo, fomos enxertados em Cristo, à maneiras de pimpolhos (João 15, 5), poderá haver alegria mais suave que a de tomar a cruz aos ombros, seguir o Divino Mestre, não arrefecer diante de nenhum trabalho, não recuar com qualquer perigo, que nos tolha de aspirar ardentemente ao galardão, para qual nos chamou para as alturas? (Fil 3, 14) Uns de receber de Nosso Senhos a coroa da virgindade (Apoc. 14, 4)); outros, a láurea de mestres e pregadores (Dan. 12, 3); outros, a palma do martírio (Apoc. 6, 9-11; 7, 13-17); outros, enfim, as remunerações que corresponde as suas virtudes (Haja vista à recompensa reservada ao fiel cumprimento dos deveres de estado - família, profissão, etc).

Entretanto, nenhum de nós seria agraciado com tais honras e distinções, se antes não nos adestrássemos na arena das tribulações da vida, e não saíssemos vencedores do campo de batalha. 

(Fonte: Catecismo da Igreja Católica - 1962 - Ed. Vozes)

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