Catecismo Romano: Efeitos do Batismo III


Dotação de Bens: Tornemos agora aos efeitos do Batismo. É preciso explicar que, por sua virtude, este sacramento não só nos livra dos males, por maiores que sejam em si, mas também nos enriquece de preciosos dons e prerrogativas.

1. Graça Santificante: Nossa Alma se enche da graça Divina, pela qual nos tornamos justos (I João 13, 10), filhos de Deus (João 1, 12), herdeiros da eterna salvação (Romanos 8, 7); pois está escrito: "Quem crer e for batizado, será salvo". (Marcos 16, 16) O Apóstolo por sua vez  atesta  que a Igreja foi purificada no banho da água pela palavra (Éfeso 5,26).

Ora, o Concílio de Trento  a todos propõe a crer, sob pena de excomunhão, que a graça não consiste apenas na remissão dos pecados, mas é uma qualidade divina inere à alma, é um certo esplendor, é uma espécie de luz que destrói todas as manchas de nossa alma, e torna  nossas almas mais formosas e mais brilhantes.

Isso é o que a Sagrada Escritura dá claramente  a entender, quando diz que a graça  é comunicada por efusão (Romanos 5, 5), e quando habitualmente  lhe chama penhor do Espírito Santo (2 Cor 1, 22).  

2. Virtudes infusas: A graça, porém, é acompanhada pelo sublime cortejo de todas as virtudes, que Deus infunde na nossa alma juntamente com a graça. 

Por isso, naquela declaração do Apostolo a Tito: "Ele nos salvou pelo banho da regeneração, e pela renovação pelo Espírito Santo, que derramou sobre nós com abundância, por Jesus Cristo Nosso Salvador" (Tito 3, 5ss) - Santo Agostinho, explicando as palavras "derramou com abundancia", acrescentou o comentário: "Isto quer dizer, para a remissão dos pecados e abastança de virtudes" (D0ney cita Aug. de peccat. merit. et remiss. 1 10).

3. Inserção no Corpo de Cristo: Além do mais, o Batismo une-nos estreitamente com Cristo, como membros que se unem à [sua própria] cabeça. 

Ora, da cabeça dimana a força, que impele as várias partes  do corpo a bem exercerem as suas respectivas funções. De forma análoga, é da plenitude de Cristo Nosso Senhor (João 1, 16) que também se difunde em todos os justificados uma força e graça divina, que os habita  para todas as obrigações da vida Cristã.

Corolário: Razão das lutas do cristão - Todavia, ninguém deve estranhar que, apesar de dotados e providos, de tanta abundância de virtudes, ainda assim não podemos começar, e muito menos concluir, sem grande luta e trabalho, as obras que são boas e agradáveis a Deus. Se tal acontece, não é porque a Bondade divina não nos conceda a força que engendra as boas obras; mas, porque a concupiscência continua, depois do Batismo a mover tenaz guerra contra o espírito (Gálatas 5, 17).

Nessa luta, porém, seria indigno que o cristão se encolhesse e desanimasse; porquanto, confiados na bondade de Deus, devemos ter a firme esperança de que, pelo exercício cotidiano da virtude, se nos tornará também fácil e agradável "o que é digno, o que é justo, o que é santo" (Filipenses 4, 8).

Meditemos de boa mente estas verdades, e ponhamo-las em prática com íntima satisfação, para que o Deus da paz esteja sempre conosco.

4. Impressão do caráter batismal: Pelo Batismo, somos enfim marcados com um sinal que jamais  poderá extinguir-se de nossa alma.

Quanto a esse caráter batismal, não é preciso deter-nos em muitas explicações, porque neste lugar podemos recapitular quase tudo o que a respeito do caráter se tratou na doutrina dos Sacramentos em geral.

Corolário: O Batismo não pode ser reiterado - Dada a natureza do caráter sacramental, a Igreja definiu  como dogma que o sacramento do Batismo não deve de modo algum deve ser reiterado (Conc. Trid. VII). Com toda a solicitude, expliquem os pastores este ponto repetidas vezes, para que os fiéis não abracem opiniões errôneas.

Esta é também a doutrina do Apóstolo, que declarou: "Um é o Senhor, uma é a fé, um é o Batismo". (Efésios 4, 5) Depois, quando exortava os Romanos a que, estando mortos em Cristo pelo Batismo, não perdessem a vida que d'Ele haviam recebido (Romanos 6,2), expressou-se da seguinte maneira: "Quanto à Sua morte, Cristo morreu pelo pecado, uma vez para sempre".

Ora, esta linguagem indica abertamente que, se Cristo não pode morrer segunda vez, nós tampouco podemos tornar a morrer mediante o Batismo. Por essa razão, a Igreja professa de público a sua fé "num só Batismo" (Símbolo de Niceia).

Vê-se que isso condiz, de todo o ponto, com a natureza e a razão de ser do Sacramento, porquanto o Batismo constitui uma espécie de regeneração espiritual. Ora, pela lei da natureza, somos gerados e nascemos uma só vez, e, como diz Santo Agostinho, não nos é possível tornar ao seio materno. Assim também, só pode haver uma só geração espiritual, e o Batismo não deve jamais ser repetido.

Senão condicionalmente... Na dúvida, se uma pessoa já foi batizada, não se deve julgar que a Igreja repita o Batismo, quando lho administra pela fórmula seguinte: "Se estás batizado, eu não te batizo de novo; mas, se não estás batizado, eu te batizo em nome do Padre, e do Filho, e do Espirito Santo".

Não se trata, portanto, de uma pecaminosa repetição, mas de uma santa administração do Batismo, em forma condicional.

Quando se duvida positivamente da sua validade: Nesta matéria, devem  os pastores atender a um ponto, contra o qual se peca quase todos os dias, com grave profanação do Sacramento.

Cuidam alguns não cometer falta nenhuma, batizando condicionalmente a quem quer que seja. Quando lhes apresentam uma criança, acham supérfluo indagar se já foi batizada. Logo a batizam, sem mais nem menos.

Ainda pior. Embora ainda saibam que o sacramento foi administrado em casa, chegam a repetir condicionalmente a sagrada ablução com as solenes cerimonias na Igreja. 

Assim, porém, cometem eles um sacrilégio, e contraem aquela mácula, a que os teólogos chamam irregularidade.

Por decisão do Papa Alexandre, essa forma de batismo só tem cabimento, quando, após sério exame, não se pode averiguar, se alguém foi validamente batizado. Do contrário, nunca é lícito conferir outra vez o batismo a alguém, ainda que fizesse sob condição.

5. Direto do Céu: Além dos já mencionados, o derradeiro efeito que em nós produz o Batismo, e ao qual todos os mais parecem subordinar-se, é o abrir para cada um de nós as portas do céu, que antes nos estavam vedadas.

Os efeitos que em nós opera a virtude do Batismo, claramente os podemos inferir das ocorrências que, pela narração autorizada do Evangelho, acompanharam o Batismo de Nosso Salvador.

Os céus abriram-se, o Espírito Santo apareceu em figura de pomba, e baixou sobre Cristo Nosso Senhor."' Ora, para os que recebem o Batismo, é isto um sinal de que também a eles são conferidos os dons do Espírito Santo, e que a porta do céu lhes é franqueada; todavia, não para entrarem logo na posse da glória, por ocasião do Batismo, mas em tempo mais oportuno, quando passarem da condição mortal para a imortalidade, então de todas as misérias, que já não terão lugar na eterna bem-aventurança.

São tais os frutos do Batismo. Atenta a eficácia sacramentai, não resta a menor dúvida de que eles se destinam a todos os homens, da mesma maneira. Mas, se olhamos As disposições de quem se batiza, força é declarar que, de suas graças e frutos superiores, uns recebem mais, outros menos.


(Fonte: Catecismo da Igreja Católica - 1962 - Ed. Vozes - 241)

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