Na fronteira com a terra do nunca marxista


Felipe Marques Pereira *

As sucessivas revisões ortográficas pelas quais a nossa língua passou isolaram o indivíduo no tempo, impossibilitando aquele recuo histórico necessário para compreensão do universal. Fechando as novas gerações para toda a riqueza histórica retratada pela literatura e que fica cada vez mais difícil de compreender. Fecha nossos ouvidos para a voz dos povos e culturas que nos antecederam. Some a isso a atitude majoritária dos nossos “intelectuais" de julgar uma obra literária de acordo com sua suposta virtude social e nos encontraremos na fronteira com a terra do nunca marxista.

A raiz desse isolamento no tempo é a crença revolucionária de que nos encontramos ou nos encontraremos em breve - é sempre pra depois de amanhã - no topo do progresso, e tudo que ainda insiste em sobreviver à moda antiga é visto ou como precursor do futuro estado de coisas, ou rotulado de "medieval" e/ou "retrógrado". Na crítica do autor esta pressuposto o conhecimento do futuro, como se ele soubesse que o tal "retrógrado" vai à contramão do futuro.

Eric Voegelin chamou de "historiogênese" a visão descrita da história como uma escala ascendente que termina na pessoa do narrador, fazendo de sua época ou da que ele prepara a suprema em alguma coisa (na justiça, na moral, na detenção do conhecimento e etc.) **.

Assim os fatos começam a ser julgados como verdadeiros ou falsos, bons ou ruins, a partir da contribuição que tiveram ou não na construção do tal futuro hipotético, utópico, fruto da sua imaginação. O PT exprime esse estado de espírito no slogan: Brasil, um país do futuro. Dilma acredita que sabe como será o futuro e crê estar habilitada a nos conduzir até lá, como um piloto de uma locomotiva, que faz muita fumaça.

Isso nos lança luz sobre as declarações de um dos condenados do mensalão que comparou a CPI a inquisição espanhola ***. Assim, aquele evento - a CPI - é visto como inimigo do futuro, ou seja, de acordo com padrões antiquados e/ ou ultrapassado de julgamento, bem como um evento que será encarado, no futuro, como uma monstruosidade, uma grande injustiça.

A recusa obstinada em aceitar como reais os fatos que não concordam com a fantasia do pai povo como o santo operário da causas trabalhistas e nem a multidão de provas do conhecimento e envolvimento do presidente Lula com o mensalão ou da atual presidente Dilma com os desvios da Petrobras investigados na operação Lava Jato, são sinais do estado psicológico dos revolucionários que acreditam estar acima de todo o julgamento moral. Delírio que, sufocando a consciência moral, permitiu aos líderes da revolução cometerem toda a sorte de crimes e afirmar, como fez Maria do Rosário (PT/RS), que “o PT não deve satisfações a ninguém”.

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Essa coluna esta sendo atualizada aos domingos, segundas ou terças-feiras.


* Felipe Marques Pereira é um escritor conservador. Católico leigo estudou na PUC/PR.


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*** http://politica.estadao.com.br/noticias/geral,toffoli-compara-penas-do-mensalao-a-inquisicao,960708

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