Terça-Feira da 4ª Semana da Quaresma

A estação de hoje reunia-se na Igreja edificada no século IV por São Dámaso em honra de São Lourenço. Já vimos que esta semana é consagrada a Moisés e é por este motivo que a Epístola e o Evangelho se refere ao Santo Legislador. Deus, que vira com indignação o seu povo prostrado diante do ídolo do bezerro de ouro, anuncia a Moisés que irá destruir aquele povo ingrato. Moisés ora então ao Senhor e consegue-lhe aplacar-lhe a cólera. Desce da montanha e castiga os infiéis e reduz os israelitas a penitência. Esta missão de pacificador é, como claramente se vê, figura da missão de Jesus Cristo, que nos havia de reconciliar com o Pai, se quiserssemos ouvir a sua palavra e fazer penitência, que é precisamente a finalidade da Quaresma. O Evangelho introduziu-nos no templo onde os judeus procuram armar mais uma cilada ao Salvador. E Jesus confunde-os sem conseguir no entanto vergar-lhes o coração, a essa gente perversa que se gloriava de ter a Moisés por legislador e não observava a sua Lei. Rejeitado por Jerusalém, Cristo fundara um novo povo, a Igreja que encherá o Universo, e que terá a alegria de ver crescer sempre seus filhos. Querem muitos ver na oração que Moisés fez por ocasião do lapso do povo um alusão ao cisma que perturbou a cidade de Roma por ocasião da eleição de São Dámaso.

Epístola

Leitura do Livro de Êxodo (32,7-14) : Naqueles dias: O Senhor disse a Moisés: “Vai, desce, porque se corrompeu o povo que tiraste do Egito. Desviaram-se depressa do caminho que lhes prescrevi; fizeram para si um bezerro de metal fundido, prostraram-se diante dele e ofereceram-lhe sacrifícios, dizendo: eis, ó Israel, o teu Deus que te tirou do Egito. Vejo, continuou o Senhor, que esse povo tem a cabeça dura. Deixa, pois, que se acenda minha cólera contra eles e os reduzirei a nada; mas de ti farei uma grandenação.” Moisés tentou aplacar o Senhor seu Deus, dizendo-lhe: “Por que, Senhor, se inflama a vossa ira contra o vosso povo que tirastes do Egito com o vosso poder e à força de vossa mão? Não é bom que digam os egípcios: com um mau desígnio os levou, para matá-los nas montanhas e suprimi-los da face da terra! Aplaque-se vosso furor, e abandonai vossa decisão de fazer mal ao vosso povo. Lembrai-vos de Abraão, de Isaac e de Israel, vossos servos, aos quais jurastes por vós mesmo de tornar sua posteridade tão numerosa como as estrelas do céu e de dar aos seus descendentes essa terra de que falastes, como uma herança eterna.” E o Senhor se arrependeu das ameaças que tinha proferido contra o seu povo.

Evangelho do dia:

Leitura do Santo Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo segundo São João (7, 14-31) : Naquele tempo, disse Jesus aos seus discípulos: Lá pelo meio da festa, Jesus subiu ao templo e pôs-se a ensinar. Os judeus se admiravam e diziam: Este homem não fez estudos. Donde lhe vem, pois, este conhecimento das Escrituras? Respondeu-lhes Jesus: A minha doutrina não é minha, mas daquele que me enviou. Se alguém quiser cumprir a vontade de Deus, distinguirá se a minha doutrina é de Deus ou se falo de mim mesmo. Quem fala por própria autoridade busca a própria glória, mas quem procura a glória de quem o enviou é digno de fé e nele não há impostura alguma. Acaso não foi Moisés quem vos deu a lei? No entanto, ninguém de vós cumpre a lei!... Por que procurais tirar-me a vida? Respondeu o povo: Tens um demônio! Quem procura tirar-te a vida? Replicou Jesus: Fiz uma só obra, e todos vós vos maravilhais! Moisés vos deu a circuncisão (se bem que ela não é de Moisés, mas dos patriarcas), e até no sábado circuncidais um homem! Se um homem recebe a circuncisão em dia de sábado, e isso sem violar a Lei de Moisés, por que vos indignais comigo, que tenho curado um homem em todo o seu corpo em dia de sábado? Não julgueis pela aparência, mas julgai conforme a justiça. Algumas das pessoas de Jerusalém diziam: Não é este aquele a quem procuram tirar a vida? Todavia, ei-lo que fala em público e não lhe dizem coisa alguma. Porventura reconheceram de fato as autoridades que ele é o Cristo? Mas este nós sabemos de onde vem. Do Cristo, porém, quando vier, ninguém saberá de onde seja. Enquanto ensinava no templo, Jesus exclamou: Ah! Vós me conheceis e sabeis de onde eu sou!... Entretanto, não vim de mim mesmo, mas é verdadeiro aquele que me enviou, e vós não o conheceis. Eu o conheço, porque venho dele e ele me enviou. Procuraram prendê-lo, mas ninguém lhe deitou as mãos, porque ainda não era chegada a sua hora. Muitos do povo, porém, creram nele e perguntavam: Quando vier o Cristo, fará mais milagres do que este faz?

Lefebvre, Dom Gaspar. Missal Quotidiano e Vesperal. Bruges, Bélgica; Abadia de S. André, 1960.

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