2 DE NOVEMBRO, COMEMORAÇÃO DE TODOS OS FIÉIS DEFUNTOS






A festa de Todos os Santos anda inteiramente ligada à lembrança das almas ainda detidas no purgatório para expiar as faltas veniais e se purificarem da pena temporal que merecem pelos pecados cometidos, mas que no entanto estão confirmada em graça que hão de entrar no Céu um dia. Depois de celebrar com alegria a Igreja Triunfante do Céu, a Igreja da Terra estende sua solicitude maternal ao lugar de tormentos indivisíveis onde vivem as almas em estado de purificação, as quais pertencem igualmente a Igreja e à comunhão dos justos. Hoje, diz o martirológio romano, comemoração de todos os fiéis defuntos. "A nossa e comum piedosa mãe, a Igreja, depois de celebrar condignamente a memória dos seus filhos que já entraram na glória, procura auxiliar com sua poderosa intercessão junto a Jesus Cristo, seu esposo e Senhor, todos aqueles que gemem ainda nas penas do purgatório, para que se abreviem os dias de exílio e se vão reunir a sociedade dos Santos". Em nenhum outro lugar da liturgia se afirma, de modo tão realmente e belo, o misterioso vínculo que une num só corpo a Igreja Militante, Padecente e Triunfante. Nunca de certo se cumpriu de modo palpável o duplo dever de caridade que deriva para todo o cristão do fato da sua mesma incorporação no corpo Místico de Cristo. Em virtude do dogma tão consolador da comunhão dos santos, podem os merecimentos e sufrágios de qualquer de nós pode circular nas veias deste corpo santíssimo e afluir em ondas de vida nova e de consolador auxílio aos membros mais distantes e necessitados. De maneira que, sem lesar os direitos invioláveis da justiça divina que será aplicada em todo o rigor após esta vida, a Igreja pode conjugar as preces da terra e do Céu e suprir com elas o que falta às almas do purgatório, aplicando a estas almas santíssimas os merecimentos de Jesus Cristo por meio do Santo Sacrifício da missa, das indulgências, das esmolas e das demais obras de caridade. A liturgia, que tem como centro o Santo sacrifício do Calvário perpetuado nos nossos Altares, foi em todos os tempos o meio principal de que a Santa Igreja se serviu no cumprimento deste dever para com os que nos precederam. Começamos a encontrar nas missas dos defuntos já no século V. A Santo Odilo, IV Abade do mosteiro de Cluny, se deve portanto a celebre comemoração dos fiéis defuntos que ele instituiu no ano de 978 e mandou ser celebrada no dia seguinte a festa de todos os Santos. A influência desta ilustre congregação francesa estendeu em breve esta celebração em todo o mundo cristão. Por concessão de Bento XIV, todos os padres de Portugal, Espanha e Conquistas podem celebrar até três missas no dia 2 de Novembro. Este privilégio fora estendido por bento XV a toda Igreja Universal no ano de 1915. "As almas do purgatório, diz o Concílio de Trento, podem ser socorridas com sufrágio dos fiéis e de modo particularmente eficaz com a celebração da Santa Missa". E a razão disso reside no fato de que o sacerdote oferece a Deus oficialmente o resgate das almas, quer dizer o sangue de Jesus Cristo, em que o mesmo Senhor Jesus Cristo se oferece ao pai sob as espécies do pão e do vinho no ato do mesmo sacrifício do Senhor. Todos os dias no coração do cânon da missa, o sacerdote, em momento especial, em memória dos que adormeceram no Senhor e pede para eles o refrigério da luz e da paz. Não há pois dia, e missa que a Igreja não ore pelos mortos. Hoje porém, lembra-se particularmente de todos, preocupada com não deixar nenhum dos seu filhos sem o seu maternal socorro. Assistamos a todos a missa do dia 2 de Novembro e peçamos a Deus para os nossos mortos, que nada podem por si, a remissão dos pecados e o repouso eterno. Visitemos também os cemitérios, onde repousam, até que se complete para eles a vitória de Jesus Cristo sob o pecado e ressurjam revestido de glória para cantar os louvores de Deus para sempre.


Epístola

Leitura da Epístola de São Paulo Apóstolo aos Coríntios (I Cor 15, 52-57). Irmãos: Eis que vos revelo um mistério: nem todos morreremos, mas todos seremos transformados, num momento, num abrir e fechar de olhos, ao som da última trombeta (porque a trombeta soará). Os mortos ressuscitarão incorruptíveis, e nós seremos transformados. É necessário que este corpo corruptível se revista da incorruptibilidade, e que este corpo mortal se revista da imortalidade. Quando este corpo corruptível estiver revestido da incorruptibilidade, e quando este corpo mortal estiver revestido da imortalidade, então se cumprirá a palavra da Escritura: A morte foi tragada pela vitória (Is 25,8). Onde está, ó morte, a tua vitória? Onde está, ó morte, o teu aguilhão (Os 13,14)?  Ora, o aguilhão da morte é o pecado, e a força do pecado é a lei. Graças, porém, sejam dadas a Deus, que nos dá a vitória por nosso Senhor Jesus Cristo!






Evangelho do dia:


Leitura do Santo Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo segundo São João (5,25-29): Naquele tempo, disse Jesus aos seus discípulos: Em verdade, em verdade vos digo: vem a hora, e já está aí, em que os mortos ouvirão a voz do Filho de Deus; e os que a ouvirem viverão. Pois como o Pai tem a vida em si mesmo, assim também deu ao Filho o ter a vida em si mesmo, e lhe conferiu o poder de julgar, porque é o Filho do Homem. Não vos maravilheis disso, porque vem a hora em que todos os que se acham nos sepulcros sairão deles ao som de sua voz: os que praticaram o bem irão para a ressurreição da vida, e aqueles que praticaram o mal ressuscitarão para serem condenados.




Lefebvre, Dom Gaspar. Missal Quotidiano e Vesperal. Bruges, Bélgica; Abadia de S. André, 1960

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